Inocentes a bordo
Peraí, gente: vamos preservar a Democracia, não podemos ser derrotistas e desmoralizar o Congresso, achar que os senadores e deputados são os únicos culpados …
Peraí, gente: vamos preservar a Democracia, não podemos ser derrotistas e desmoralizar o Congresso, achar que os senadores e deputados são os únicos culpados nessa farra aérea. Temos que compreender os motivos dessa gente que, pra mostrar seu valor, às vezes chega a comparecer três dias seguidos por semana em Brasília, e alguns até trabalham nesse período.
Melhor atentarmos para os aspectos atenuantes desse escândalo nacional com asas.
Na minha opinião opiniática, o problema inicial é a pujança da frota brasileira. Essas atuais companhias aéreas, que superaram déficits e falências, elas venceram obstáculos, concorrentes, e decolaram num mercado muitas vezes sem céu de brigadeiro. Natural que sejam prestigiadas pela classe política, de preferência na primeira classe.
No estágio evoluído em que se encontram as companhias de aviação comercial, com rotas para tudo quanto é canto, com incontáveis opções de escalas e conexões, horários variados, seria um desperdício viagens com tantas poltronas vazias por voo. Eles quase que são obrigados a voar!
Essas companhias, com suas aeronaves modernas e confortáveis, jatos de última geração, que só falham por falhas humanas de alto nível, são uma tentação para o uso da verba de viagens. Se tivéssemos transporte antiquado e aeromoças menos bonitas, o abuso seria menor. Como não embarcar nessa facilidade?
Para complicar a situação dos parlamentares voadores, existe ainda a Infraero, que istra tanto o caos quanto a paz nos ares. Com sua infra-estrutura confiável em todos os pontos da rosa-dos-ventos, com aeroportos belíssimos, é um atrativo a mais para que os senhores ocupem os assentos, apertem os cintos e bebam seu uisquinho.
Para piorar tudo, é bom salientar o corruptor e corruptível povo brasileiro, que é pedinchão, achaca os coitados dos políticos sem parar, que evidentemente não têm como recusar o assédio, que vais lhe render votos e apoio, coisas pertinentes ao exercício parlamentar. Assim, além de voar para destinos sem finalidade a ver com a carreira, os nobres parlamentares ajudam milhares de correligionários, companheiros e outros democratas a usufruir do espaço aéreo democrático (o fato de tantos ageiros terem o mesmo DNA ou parentesco com quem oferece a agem é mera estatística, ora).
Até o país, com seus oitocentos milhões de km2, tem a sua responsabilidade no desvio dessa imensa verba. Se o Brasil não fosse tão gigantesco, os voos seriam mais curtos, logo, haveria menos gastos.
Mas claro que temos de apontar um culpado, e serei rigoroso nessa hora. É o sr. Alberto Santos Dumont: se ele não tivesse inventado o que inventou, não haveria essa farra das agens. Como se dizia quando não havia impunidade: prendam-no!
Carteira de habilitação - Documento oficial sem o qual ninguém está autorizado a atropelar pedestres, chocar-se com outros veículos e receber multas por uma infinidade de infrações.
Check-up - Uma série de exames rigorosos que a gente faz, para saber como vai o nosso plano de saúde.
Contrapartida - É o novo e eufemístico uniforme do jogo de interesses no campo dos negócios.
Degradação - A baixa qualidade das serralherias quanto à produção de gradis domésticos sem ISO 9000.
Impacto ambiental - Qualquer coisa que qualquer um faça a qualquer hora em qualquer lugar.
Impunidade - Isso que condena a todos por causa de muitos que não são nem serão condenados.
Percepção extra-sensorial - Algo que você acha que viu com os ouvidos, sentiu com os olhos, ouviu com o nariz ou notou com a boca.
Periclitante - É um lugar, condição ou situação onde até os perigos estão a perigo.
Pontualidade - Está em todos os relógios mas daí não a.
Vigilante sanitário - O mais salutar de todos os empregos insalubres.