Indignação com o bônus dos outros

Esta semana a mídia americana e, depois, a brasileira agendaram o tema dos bônus pagos aos executivos de uma seguradora americana que, com dificuldades …

Esta semana a mídia americana e, depois, a brasileira agendaram o tema dos bônus pagos aos executivos de uma seguradora americana que, com dificuldades financeiras, recebera recursos do Tesouro deles.


Lendo jornais dos dois países, o primeiro aspecto que me chamou a atenção foi que nas terras tupiniquins a repercussão foi tão grande ou maior que nas paragens do Tio Sam. Ao que parece, nossas mazelas foram resolvidas e a hora é de tratar do rabo dos outros?


O mais estranho, entretanto, foi a indignação do lado de cá do Caribe, acerca do pagamento. O raciocínio: se a empresa teve prejuízo e recebeu dinheiro público, não pode pagar bônus para seus executivos. Para aprofundar a demagogia: não é correto dar dinheiro do povo à elite.


Ora, empresas estabelecem suas políticas de participação nos resultados a partir de variados critérios; devem pesar o desempenho individual, da equipe e da empresa. É plenamente possível que executivos de uma empresa com mau desempenho tenham cumprido suas metas e serem elegíveis a bônus. E este bônus é tão devido quanto a conta da água da empresa.


Engraçado, a crise financeira internacional tem propiciado a emissão de todo tipo de disparate; o maior que ouvi: "a crise de 2008 está para o capitalismo assim como a queda do muro de Berlim está para o comunismo". Os governos estão sendo chamados nesta crise por apenas dois motivos: recolhem impostos e emitem moeda. Para sanar as cíclicas crises do capitalismo, só há uma receita, mais capitalismo.


Voltemos ao bônus.


Considerando que quando uma instituição não dá resultado tem que conter gastos, o que se deve recomendar ao nababesco Estado brasileiro? Esta máquina de produzir despesa e corrupção. É possível o inchaço da máquina no Legislativo e Executivo?


Em tempo: do Judiciário e Ministério Público não trato porque não há informações; como a imprensa trata o tema com carinho, devo supor que são entidades que funcionam com perfeição suíça.


Um Estado incapaz de entregar os produtos para o qual ele existe não precisa ser revisto? Saúde e educação à beira do caos e o Desgoverno cria meia centena de milhar de novos cargos para os companheiros.


E dê-lhe bônus, salários e sinecuras a uma máquina cada vez mais inútil e cara.


Se a indignação da nossa mídia fosse direcionada de maneira correta, nossa classe política seria outra.


Perguntando


Considerando a edição do Zero Hora de hoje, podemos esperar duas páginas na próxima quinta com o "ainda não candidato" José Serra?

Autor
André Arnt, diretor da Coletiva EAC, é de empresas, consultor e professor universitário. Coordenou cursos de pós-graduação nas áreas de negócios e marketing. Atua como consultor em estratégia empresarial. É colaborador da Coletiva.net.

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