In forma (21/05)
Por Marino Boeira

Uma das regras de ouro de qualquer democracia é que o principal mandatário de um país (Presidente ou Primeiro Ministro) não deve misturar o público com o privado e que só ele ou alguém formalmente indicado por ele, pode falar oficialmente em nome do País.
Alguém tem lembranças de ouvir a senhora De Gaulle, a senhora Roosevelt, a senhora Churchill ou a senhora Stalin falando em nome de seus países em algum encontro com autoridades estrangeiras. Mesmo a senhora Kennedy, Jacqueline, quase tão conhecida quanto John seu marido, só falava com a mídia sobre seus temas pessoais.
No Brasil também sempre foi assim. A mulher de Getúlio Vargas, Darcy Sarmento Vargas, foi ativa em ações assistencialistas (criou a Legião Brasileira de Assistência), mas nunca se ouviu dela alguma intervenção em reuniões oficiais. Alzira Vargas do Amaral Peixoto, filha de Getúlio, foi sua secretária e confidente e após sua morte a autora de se livro de memórias (Getúlio Meu Pai), mas atuou sempre à margem da oficialidade.
De outros presidentes, pouco se ouviu falar de suas mulheres, a exceção de Ruth Cardoso, mulher de FHC, e Maria Tereza Goulart, a mulher de Jango. A primeira porque era uma intelectual quase tão conhecida como o marido e a segunda pela sua vida social.
Agora com Lula, acontece o que não aconteceu quando do seu casamento com Maria Letícia, uma intensa participação na vida política e a interferência nem sempre adequada em eventos oficiais, como foram os casos do palavrão que dirigiu publicamente a Elon Musk e agora na China, interrompendo uma fala de Lula com Xi Jinping (O Lula mesmo confirmou isso dizendo que ele falava com o dirigente chinês sobre o Tik Tok, quando ela interrompeu para dar sua opinião).
Como não poderia deixar de ser, na mídia convencional e nas redes sociais, as falas da Janja são enaltecidas e apresentadas como representativas de um novo tipo de mulher, independente e participativa, por um importante segmento de homens e mulheres identificados com uma visão identitarista da história e da política.
Felizmente esse não é um comportamento unânime. Para muitos, essa confusão entre o público e o privado, entre as funções oficiais e pessoais, são sinais que mostram como Lula ainda não se deu conta do significado simbólico de ser o Presidente de um país como o Brasil e se entrega a uma política vulgar e eleitoreira.