In forma (14/05)
Por Marino Boeira

O QUE DRUMMOND TEM A DIZER DO BRASIL DE HOJE?
Quando Carlos Drummond de Andrade (1902/ 1987) escreveu um dos seus mais importantes poemas - "Nosso Tempo" - a humanidade vivia o final da Segunda Guerra e o mundo se debatia entre a dor do que acontecera e a esperança de uma nova alvorada.
Escreveu então o poeta: "Este é tempo de partido / tempo de homens partidos / Este é tempo de divisas, / tempo de gente cortada. / De mãos viajando sem braços, /obscenos gestos avulsos.
Estivesse vivo hoje o nosso maior poeta o que ele diria do Brasil?
Imagino que ele não transigiria com tibieza moral dos nossos dirigentes, com os escândalos diários dos nossos políticos e com o desprezo da maior parte das pessoas pela cultura e pelo saber.
Drummond não aceitaria conviver com a miséria do nosso povo, com a fraqueza moral dos seus governantes, com as mentiras que eles semeiam as páginas dos jornais, com as promessas sempre repetidas e nunca cumpridas de um novo Brasil mais justo e mais solidário.
Drummond certamente seria incapaz de escolher entre as opções que políticos e partidos oferecem hoje para os brasileiros (o velho do Bolsonaro e o novo do Lula) e repetiria os versos com os quais encerrou seu poema Nosso Tempo:
O poeta
declina de toda responsabilidade
na marcha do mundo capitalista
e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas
promete ajudar
a destruí-lo
como uma pedreira, uma floresta
um verme.