IN FORMA

Por Marino Boeira

ELEIÇÕES SÃO PROVAS DE DEMOCRACIA?

Há cerca de 300 mil anos, na África, possivelmente por obra do acaso, de um grupo de primatas surgiu o Homo Sapiens. Começava aí a longa história da sociedade humana.
Inicialmente vivendo como nômades, esses primeiros homens eram basicamente caçadores e coletores. Mesmo que muitos digam ainda hoje que o ser humano é egoísta, historicamente isso não foi verdade, porque ele soube aos poucos se organizar em sociedades para enfrentar os perigos do mundo primitivo e ir avançado em suas formas de vida em comum.

Não ao mesmo tempo em todos os lugares, mas sempre avançando, os homens deixaram de ser apenas coletores e caçadores e começaram a ser também agricultores. Esse avanço trouxe junto a primeira grande divisão entre eles: os que se apossaram da terra e dos instrumentos de trabalho e os que só tinham a força de trabalho para oferecer.

Começava a idade do Escravismo, que vai avançar depois para outra organização mais evoluída, o Feudalismo e mais adiante para o Capitalismo. Cada um desses novos ciclos vai ser mais curto que anterior. O capitalismo, que nasceu com os grandes descobrimentos marítimos por volta de 1.500, é a próxima etapa a ser superada. O novo ciclo, que já está no horizonte tem nome: Socialismo e os sinais da sua chegada já estão presentes. O filósofo e político italiano Antonio Gramsci (1891/1937) caracteriza essa época em que vivemos como um período em que uma grande variedade de sintomas mórbidos surge, exatamente porque o velho (o capitalismo ) esta morrendo e o novo ( o Socialismo) ainda não pode nascer.

Esse sistema capitalista criou uma classe dominante, mas minoritária, a burguesia que vive à custa de uma imensa maioria, os trabalhadores. Essa equação simplificada, mesmo verdadeira, não elimina as imensas contradições que existem dentro desse processo e faz com que esse avanço da sociedade seja sujeito a desvios e recuos e que seus agentes confundam seus papeis nessa história.

Tomemos um exemplo simples: o processo eleitoral dentro dessa sociedade burguesa. Nos países ditos democráticos, teoricamente, a cada um determinado período, as pessoas são chamadas a escolher livremente seus governantes. Só que esse processo é condicionado por uma série de fatores. Como o poder está nas mãos da burguesia, ela dispõe de instrumentos - o Estado, através de seus vários órgãos como a Polícia e o Judiciário; os Meios de Comunicação; as Igrejas e as Escolas - para sua preservação.

Marx já dizia que no capitalismo a democracia é a ditadura da burguesia. Uma das formas que ela exerce essa ditadura é através de um processo eleitoral controlado, onde tudo pode ser contestado menos a própria ordem burguesa.

Nesse processo, mesmo os que deveriam se opor a esse sistema - os trabalhadores - vivem numa situação de alienação política e acabam votando naqueles candidatos que o sistema oferece, mesmo que nenhum deles represente concretamente seus interesses.

Esse cardápio de candidatos oferecido em cada eleição, pode ser até variado, percorrendo uma gama de opções, da esquerda até à direta, mas fica sempre dentro do que a ordem permite.
Um exemplo concreto são as últimas eleições brasileiras. Apesar de não serem candidatos, Lula e Bolsonaro foram os nomes por trás da maioria das escolhas. Os dois, com as políticas que representam, são plenamente aceitos pelo sistema.

Resta às pessoas que percebem a armadilha que existe por trás desse processo eleitoral, falar e escrever sobre isso. É o que tento fazer aqui.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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