IN FORMA
Por Marino Boeira

Ler para entender
A guerra que Israel move contra a população palestina de Gaza e também da Cisjordânia, tornou ainda mais clara a ignorância geral dos brasileiros sobre o que acontece no Oriente Médio e também no resto do mundo.
Enquanto a grande mídia cerrou fileiras ao lado do estado sionista de Israel, as chamadas redes sociais viraram palco das mais ingênuas interpretações do que está ocorrendo na Palestina.
Homens e mulheres, cheios de boas intenções, transformam graves questões da geopolítica internacional e um imenso conflito de classes, em uma briga quase familiar.
Árabes e judeus seriam irmãos, ou primos, que por uma birra quase infantil, não se entendem. Sobram então exemplos de pequenos e inocentes judeus e palestinos caminhando lado a lado e histórias do Jacó e do Salim que têm um negócio juntos e vivem felizes.
Tem ainda aqueles outros que se dedicam a orar pela paz na Palestina, como se fosse apenas uma questão religiosa que divide árabes e judeus. Seguem o exemplo do Papa Francisco, cujo único comentário sobre o conflito foi dizer que está orando pela paz. Que o Bergoglio ore pela paz, está bem. Afinal, ele é pago para isso, mas as pessoas pensarem que suas orações servem para alguma coisa é uma prova de ignorância geral e irrestrita.
O conflito na Palestina, infelizmente, pelo que se sabe até hoje, não tem nenhuma solução à vista. Ou Israel completa o massacre e exclui os palestinos em definitivo de suas terras ancestrais ou os árabes unidos acabam com o governo sionista de Israel.
Árabes e judeus podem viver num mesmo Estado, desde que ele seja laico e democrático, coisa que hoje Israel não é.
Para entender como se chegou ao conflito de hoje é preciso ler. Um pouco dessa história está nos jornais, mas nesse caso ela está obnubilada pelos interesses comerciais dos seus donos.
Quem busca informações, para formar uma opinião racional sobre o que ocorre há mais de um século no Oriente Médio, precisa ler. Essa semana, no seu programa da Revolução Brasileira, o professor Nildo Domingues Ourique, da Universidade Federal de Santa Catarina e Presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA), forneceu um pequeno roteiro de leitura para isso, que eu agora completo.
Primeiro, dois clássicos do jornalismo moderno sobre o Oriente Médio: 'A Grande Guerra pela Civilização' e 'Pobre Nação', do jornalista inglês Robert Fisk (1946/ 2020). Somados, são quase duas mil páginas, mas sem elas, sobram apenas as bobagens que Rodrigo Lopes, enviado daquele jornal a Israel, escreve sobre o tema.
Os fundamentos do estado de Israel se estruturam em duas bases: o sionismo que faz dos judeus o "povo eleito" e o holocausto judeu na Segunda Guerra, que justificam todas as perseguições aos palestinos. Para entender esses fatos é preciso ler no mínimo, dois professores judeus: Shlomo Sand (1946...) que destrói o mito do povo eleito e mostra o que é o sionismo em seu livro 'A Invenção do Povo Judeu' e Norman Finkelstein (1953...), com a 'Indústria do Holocausto'. Quem quiser saber como é feita a limpeza étnica que os judeus realizam na Palestina, dever ler o também professor judeu IIan Pappé (1954...).
Claro que é preciso ler o que escreveram também sobre o tema Noam Chomsky (1928...), que diz ser pior o que os judeus fazem na Palestina do que os brancos fizeram com os negros na África do Sul e o grande historiador inglês Eric Hobsbawm (1917/2012) com a sua trilogia sobre as Eras, das Revoluções, do Capital e do Império.
Enfim, é preciso ler para saber.