IN FORMA
Por Marino Boeira

A mídia brasileira foi à guerra por Israel
A nova guerra dos palestinos contra a opressão do Estado de Israel, que já dura mais de 75 anos, é classificada pela nossa mídia como a defesa dos judeus contra atos terroristas.
Localmente, o responsável pelos comentários sobre política internacional nos jornais da RBS, Rodrigo Lopes, é mais um a seguir a cartilha determinada pelo lobby judaico que, a partir dos Estados Unidos, dita o que é certo e o que errado no Oriente Médio.
Seus comentários são ditados pelo que dizem as agências internacionais americanas e em momento algum lembram, mesmo de agem, o que escreveram sobre a questão palestina, não apenas um observador qualificado como Robert Fisk no seu clássico 'A Grande Guerra pela Civilização - A Conquista do Oriente Médio', mas também importantes personalidades de origem judaica que há muito condenam Israel, começando por Noam Chomsky - linguista, filósofo, cientista e professor emérito do Instituto Tecnológico de Massachusetts.
Diz ele: "Nos territórios ocupados, o que Israel está fazendo é muito pior que o apartheid. Os brancos sul-africanos precisavam da população negra. Era sua força de trabalho. Eles tinham que sustentá-los. Os "bantustões" eram horríveis, mas a África do Sul precisava deles. A relação de Israel com os palestinos é diferente. Israel simplesmente não quer os palestinos. Israel os quer fora de sua terra ou pelo menos na prisão".
Chomsky não é a única personalidade judaica a condenar Israel. Existem outros, como Shlomo Sand, professor de História da Universidade de Tel Aviv. No seu livro A Invenção do Povo Judeu, ele desmancha um dos mitos que justificam a presença de um estado religioso sionista em meio à populações palestinas: "A maioria dos judeus não foi exilada pelos romanos e muitos se converteram ao islamismo, após a ocupação da Palestina pelos árabes no século sétimo". O sionismo, segundo Sand, foi mais um dos movimentos nacionalistas surgidos na Europa no século XIX que sonhavam com uma hipotética "idade do ouro", existente no ado.
Já o professor Norman Finkelstein, da Universidade de Princeton, no seu livro A Indústria do Holocausto, desmancha outra justificativa para o terror que Israel exerce sobre os Palestinos : " Depois da Segunda Guerra Mundial, as organizações judaicas dos Estados Unidos, as mais poderosas do mundo - sempre com o apoio de publicações como "New York Times" e "Washington Post", os dois jornais mais conhecidos do país, além de revistas, como "Time" e "Newsweek" -, praticamente esqueceram o Holocausto, isso porque a Alemanha tornou-se um aliado crucial no confronto dos EUA com a União Soviética. Foi depois da Guerra dos 6 DIAS, que por razões políticas internacionais, que começou a imensa utilização do Holocausto como arma de divulgação do estado de Israel."
O professor Ilan Pappé da Universidade de Exeter, no Reino Unido, defende em seu livro mais importante, "Limpeza Étnica na Palestina" que houve a expulsão deliberada da população civil árabe da Palestina - operada pela Haganah, pelo Irgun e outras milícias sionistas e considera a criação de Israel como a principal razão para a instabilidade e a impossibilidade de paz no Oriente Médio.
Já para a professora Judith Butler, de Cleveland, Ohio, de origem judaica e que teve sua família pelo lado materno morta em campos de concentração nazista na Hungria - professora de Filosofia na European Graduate School, na Suíça, diz no seu livro Judaísmo e Critica do Sionismo " que é preciso acabar com a ocupação, que é ilegal e uma extensão de um projeto colonial".
Enquanto a mídia brasileira segue os ditames das centrais de notícias norte-americanas, são apenas nas redes sociais que surgem as maiores críticas à política de apartheid de Israel. Uma das manifestações mais corajosas foi da deputada Luciana Genro, totalmente esquecida pelos jornais locais. Disse ela; "Gaza é a maior prisão a céu aberto do mundo O povo que vive há décadas sob um regime militar e colonial de ocupação tem o direito de resistir e se levantar contra a opressão. A resistência palestina vive e é legal perante o direito internacional. Ilegal é o apartheid, o colonialismo e a limpeza étnica promovidos pelo regime israelense, que conta com o governo mais reacionário de sua história. Tratar a resistência palestina como terrorismo seria equivalente a tratar da mesma forma o levante dos judeus contra o nazismo em Varsóvia, em 1943".
A parlamentar lembra o cerco pelo exército alemão ao Gueto de Varsóvia, durante a Segunda Grande Guerra, quando a sua população foi reduzida de 380 mil pessoas para pouco mais de 80 mil por um bloqueio impiedoso e desesperada iniciou uma revolta, possivelmente a única dos judeus contra os nazistas.
Parece que o governo de Israel pretende fazer o mesmo agora com os palestinos em Gaza, cortando a eletricidade, bombardeando casas e hospitais e impedindo a entrada de remédios e alimentos na cidade sitiada, enquanto para a nossa mídia, os terroristas são os palestinos.
O Brasil, infelizmente, através do seu presidente, Lula da Silva assume até o momento, uma posição dúbia ao condenar o que chamou de terrorismo do Hamas, esquecendo a política de apartheid de Israel na faixa de Gaza.
É mais uma vez o Lula se propondo a conciliar os opostos, como faz na política interna do Brasil tentando aproximar interesses opostos de exploradores - latifundiários, banqueiros, empresários e explorados, os trabalhadores.
Na Palestina, ao contrário do Brasil, a resistência dos explorados parece mais difícil de ser dobrada.