IN FORMA

Por Marino Boeira

Utopias

"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois os, ela se afasta dois os. Caminho dez os e o horizonte corre dez os. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar."

- Fernando Birri, citado por Eduardo Galeano in 'Las palabras andantes?' de Eduardo Galeano. publicado por Siglo XXI, 1994.

Eduardo Galeano (1940/2015), jornalista e escritor uruguaio é mais conhecido pelo seu livro de denúncia do imperialismo americano 'As Veias Abertas da América Latina'. Já Fernando Birri (1927/2017) é argentino, cineasta, considerado criador do moderno cinema argentino e diretor de importantes filmes como 'El Siglo del Viento', 'Buenos Dias, Buenos Aires' e 'Che - Muerte de la Utopia?'.

O que eles disseram serve muito bem para a realidade política brasileira atual. Quem viveu os primeiros anos da década de 60, do século ado, viveu num Brasil onde a possibilidade de se construir um país independente e poderoso parecia ser a tarefa daquela geração.

O golpe militar de 64, que uniu as forças armadas ao que havia de mais retrogrado na sociedade brasileira, todos estimulados pelo imperialismo norte-americano, além de sufocar os movimentos libertários que se multiplicavam no País, gerou um profundo niilismo nas gerações seguintes.

A democratização do final dos anos 80 trouxe como herança da ditadura militar uma classe política sem maiores vínculos com o nacionalismo do ado; trabalhadores abandonados pelos partidos que os representaram no ado e uma elite intelectual que esqueceu suas motivações revolucionárias do ado.

Dentro desse quadro surgiram os governos voltados para a integração à chamada democracia liberal de inspiração norte-americana em suas duas versões, a primeira representada pelos governos do PSDB de Fernando Henrique Cardoso e a segunda, pelos governos do PT de Lula e de Dilma.

Em comum, esses dois modelos de governo tinham a proposta de um crescimento possível dentro da ordem burguesa e uma posição de subserviência ao imperialismo dos Estados Unidos no plano internacional.

As diferenças ficaram por conta do olhar sobre os marginalizados, em número cada vez maior pela ausência de crescimento econômico do País.

Enquanto o PSDB propunha um arremedo de política desenvolvimentista que se esgotou rapidamente, o modelo petista investia numa prática assistencialista que visava minorar os problemas econômicos da maioria da população, ao mesmo tempo em que estimulava os setores exportadores, basicamente o agronegócio.

A enorme crise econômica que o governo Dilma trouxe ao Brasil permitiu um interregno de quatro anos do domínio político do PT, durante o qual o País vivenciou a triste experiência bolsonarista. Um governo que flertava com o fascismo na aparência, mas que na prática seguia o mesmo figurino de dependência ao imperialismo e subserviência ao grande capital interno.

Hoje está de volta o velho modelo petista, adornado com um novo componente: a presença de um representante tucano na figura de José Alckmin ao lado de Lula.

Para uma boa parte da população brasileira que votou no PT, é a esperança de que Lula, o nosso novo Dom Sebastião, possa trazer de volta tempos melhores, que de forma concreta só existiram na imaginação dos portugueses do século XVI e dos petistas do século XXI.

A condição de país periférico do Brasil na ordem mundial, só se acentuou nos últimos 20 anos e voltamos a ser o país exportador de matérias primas, como sempre fomos desde os tempos da Colônia, hoje representadas pela soja e pelos minérios.

Quem tem a coragem de levantar a bandeira da luta por um Brasil forte e independente e de propor, dentro da ordem estabelecida, uma nova ordem, é chamado pejorativamente de utópico.

Se Fernando Birri e Eduardo Galeano estivessem vivos hoje, se dariam conta de que há sinais no horizonte que logo ali a utopia pode se tornar realidade.

O movimento em favor da Revolução Brasileira cresce dia a dia unindo trabalhadores e intelectuais. No 'Manifesto Comunista' de 1848, Marx e Engels escreveram na abertura: "Um espectro ronda a Europa - o espectro do comunismo. Todas as potências da velha Europa unem-se numa Santa Aliança para conjurá-lo: o papa e o czar, Metternich e Guizot, os radicais da França e os policiais da Alemanha".

Logo escreveremos: "Um espectro ronda o Brasil - o espectro da Revolução Brasileira. Todas as forças reacionárias do Brasil estão unidas contra ele: os banqueiros, os grandes comerciantes, os latifundiários, os industriais, a mídia e as Igrejas."

Logo a Revolução Brasileira vencerá porque, parodiando o manifesto de Marx e Engels: "Os trabalhadores brasileiros nada têm a perder. Tem um mundo a ganhar".

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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