Nós, os utópicos 1o1f61
O fim do governo de Jair Bolsonaro representou para os brasileiros um alívio. Enfim estávamos livres do genocida, do ogro maldito, de alguém tão desprovido de valor moral, que nunca imaginávamos que alguém como ele pudesse ter chegado à Presidência da República. Mesmo comparado com os generais do regime militar, o governo de Bolsonaro tinha algo pior, ele fora conquistado nas urnas e não pela força das armas e para as pessoas de boa consciência, isso significava que uma parcela da população brasileira estava contaminada pelo mal.
Isso explica que, mesmo itindo a frustração que os primeiros seis meses de governo do senhor Luís Inácio Lula da Silva já trouxeram, muita gente que se diz de esquerda, afirma que é preciso apoiá-lo, porque o perigo bolsonarista não foi ainda extirpado.
É preciso se não apoiar, ao menos justificar as negociatas com o Congresso; o relacionamento deletério com o agronegócio; a existência de uma Petrobrás a serviço de investidores estrangeiros; o esquecimento das grandes reformas de base, fundamentalmente a agrária e a falta de uma política externa independente e de enfrentamento ao imperialismo norte-americano.
Mas, nem todos estão dispostos a seguir essa política de avestruz. Começam a surgir no Brasil, nas universidades, nos sindicatos e mesmo nos partidos políticos, pessoas e movimentos que não temem usar as palavras que soam estranhas aos ouvidos dos dirigentes petistas: luta de classe, defesa de uma sociedade socialista e revolução social.
Os mais coerentes nessa linha política são os integrantes do movimento Revolução Brasileira, que surgiu dentro do PSOL mas que já se tornou independente e hoje busca a formação de uma vanguarda revolucionária no Brasil.
Uma vanguarda que mostre à população que o governo Lula/Alckmin está limitado à defesa da ordem burguesa, injusta para a maioria da população, promove a versão americana das lutas identitárias (contra o racismo, a homofobia e pela igualdade de sexos) e esquece que elas só podem ser enfrentadas numa sociedade social e economicamente igualitária.
Por tudo isso, o governo Lula, objetivamente, representa as mesmas forças que sustentaram o governo Bolsonaro e só se diferencia dele pela aparência e não pelo seu conteúdo social e político.
Eu tenho divulgado as ideias da Revolução Brasileira nos meus espaços nas redes sociais e recebo em retorno dois tipos de críticas. Uma é totalmente desprezível e me liga ao bolsonarismo e a outra é equivocada porque pretende ver no que escrevo uma utopia fora de época.
São pessoas que não querem ver os sinais de que ela pode estar bem mais próxima do que a mídia, a serviço do sistema, pretende nos fazer ver.
Para esse segundo grupo, onde estão pessoas bem intencionadas e que também sonham o mesmo Brasil do que eu, mas em um futuro que se perde nos séculos vindouros, respondo com uma definição de utopia, quase sempre atribuída a Eduardo Galeano (1940/2015), mas que ele mesmo sempre fez questão de identificar sua verdadeira origem, que é a do cineasta argentino, Fernando Birri (1925/2017)
"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois os, ela se afasta dois os. Caminho dez os e o horizonte corre dez os. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.?