IN FORMA
Por Marino Boeira

Em defesa da nossa língua
O que nos leva dizer que somos brasileiros?
Primeiro, a contingência geográfica. Nascemos em um território que depois de muitas guerras e negociações, vai do Oiapoque ao Chuí. Se tivéssemos nascidos alguns metros mais ao sul do Arroio Chuí, seríamos uruguaios, com muito orgulho, e falaríamos espanhol. Mas, além da geografia, é a História que nos leva viver em uma pátria comum. Temos uma série de eventos que só nós brasileiros tivemos: Canudos, a Balaiada, Inconfidência Mineira, a Revolução Farroupilha, a Legalidade, entre outros acontecimentos são coisas só nossas.
E fundamentalmente, temos uma Cultura comum. São os fatos da economia - o pau-brasil, a cana-de-açúcar, o ouro, o café, o latifúndio, a escravidão - que geraram uma cultura só nossa, mesmo aquelas que, como no caso da escravidão negra, são uma mácula no nosso ado. O elemento fundamental e agregador dessa Cultura é a nossa língua comum, o Português. Foi com ela que historiadores, políticos, romancistas, poetas e músicos construíram durante séculos a História da nossa gente. Camões, Fernando Pessoa, Euclides da Cunha, Machado de Assis, José Saramago, Rubem Fonseca, Chico Buarque, Nelson Rodrigues, Graciliano Ramos, Chiquinha Gonzaga, Clarice Lispector, Orestes Barbosa, Pixinguinha, Dercy Gonçalves, Dyonélio Machado, Érico Veríssimo, Leila Diniz, Getúlio Vargas, Ari Barroso, Chacrinha, Leonel Brizola, Luís Gonzaga, Elis Regina, Carlos Drummond de Andrade, Mario Quintana, Paulo Mendes Campos, Lupicínio Rodrigues, Guimarães Rosa, Zuzu Angel, Josué Guimarães e tantos outros, usaram a nossa língua portuguesa com mais ou menos maestria, mas sempre foram fiéis a ela.
A sua defesa é uma imposição que deve ar de geração para geração e sua preservação está hoje mais ameaçada do que nunca. Jornalistas e políticos se dedicam diariamente à tarefa de tentar destruí-la, inserindo nos jornais, na televisão, no rádio e nos discursos de políticos, anglicismos horrendos. Esses iconoclastas querem trocar a nossa nobre herança latina pela língua dos bárbaros anglo-saxões
Uma língua rica e flexível por uma língua pobre, que sempre serviu para justificar a mais torpe exploração colonial na Ásia e na África e particularmente e para os diálogos de bucaneiros.
O Presidente da República, o senhor Luís Inácio Lula da Silva, fala em "fake News" e anuncia que fará uma "live" para defender a valorização das nossas "comodities".
O nosso esporte mais popular fez um grande esforço e deixou de ser football, para ser o popular futebol. No ado, o jornalista esportivo falava em goalkeeper, Center Half, Center Forward e Winger, Right e Left. Hoje, felizmente é Goleiro, Centromédio, Centroavante e Ponteiros, Direito e Esquerdo.
Mas infelizmente algumas heranças que o colonialismo cultural inglês introjetou no nosso cotidiano, continuam sendo cada vez mais vendidas aos brasileiros. Aqueles simpáticos cães e gatos do nosso ado, são hoje chamados de PETs.
A mentira, a informação falsa é agora FAKE NEWS.
E a mais recente praga a infestar o jornalismo brasileiro (infelizmente também aqui em Coletiva.net) é o tal SUMMIT.
As reuniões mais convencionais, até mesmo de condomínios populares, viraram SUMMIT.
Se é preciso mesmo uma citação em outra língua para mostrar cultura e saber, vamos usar o Latim, a nossa língua-mãe.
Em vez daquela frase do senador romano Catão, o Velho:
-"Delenda est Carhago", que tal "Delenda est Anglicismus" ?