IN FORMA
Por Marino Boeira

Algo deve mudar para que tudo continue igual
Durante mais de 30 anos, fui professor universitário na área da Comunicação, sempre atuando num setor específico - a Publicidade - o que me permitia deixar bem claro para meus alunos que eles se preparavam para serem profissionais de um negócio cujo único objetivo era o lucro.
Ao mesmo tempo, via meus colegas, professores da área de Jornalismo, falar para seus alunos que eles teriam liberdade em sua futura profissão para contar a verdade dos fatos.
Hoje, penso que nenhum dos meus alunos tenha se surpreendido com o que o mercado profissional lhes ofereceu.
Já, para o pessoal do Jornalismo, imagino quantas decepções.
No maior jornal local, um cronista razoavelmente conhecido, analisando o fim da União Soviética, diz que uma das suas causas foi o fato do país, responsável pela derrota do nazismo na Segunda Grande Guerra e que criou o Sputnik, ter sido incapaz de fabricar uma boa calça jeans para os jovens, como os americanos foram.
No mesmo jornal, na sua página do noticiário internacional, o colunista reproduz na íntegra a visão das agências internacionais de notícias - americanas e europeias - totalmente favorável à guerra militar e econômica que os Estados Unidos e a OTAN movem contra a Rússia, usando a Ucrânia como instrumento.
Isso não acontece por acaso e não apenas na mídia local. Os meios de Comunicação se transformaram há muito em poderosos instrumentos de manutenção do sistema capitalista no mundo inteiro.
Mais do que os judiciários, os exércitos, todas as religiões, a indústria cultural e as escolas, são os meios de Comunicação que agem diariamente sobre a mente das pessoas - transformadas em consumidores - buscando convencê-las que o atual sistema, que eles chamam quase que ironicamente de Estado Democrático de Direito, é o estágio mais alto que podemos chegar.
Todos os grandes pensadores, começando por Karl Marx, mais Giorgi Lukács e István Meszaros na Filosofia; Vladimir Lenin, Antonio Gramsci e Rosa Luxemburgo na Política, Eric Hobsbawm na História, Eduardo Galeano e Jorge Semprún, na Literatura e Sergei Eisenstein no Cinema, entre outros, que propam a superação do atual sistema com a conquista do Socialismo, são desprezados ou tratados como peças de museu.
Do anônimo repórter do jornal provinciano, até aos laureados jornalistas com espaço em páginas nobres de grandes jornais e os não menos famosos comentaristas de grandes canais de televisão, todos têm algo em comum, a defesa do atual sistema.
No caso brasileiro, as pretensas diferenças entre esquerda, centro e direita por parte dos veículos de Comunicação e seus profissionais, são apenas superficiais quando se trata de defender o modelo sócio econômico em que vivemos.
As críticas são sempre pontuais: é a corrupção de um político, a violência individualizada de um policial ou a narrativa equivocada de um acontecimento,
O importante é preservar o sistema, mesmo que ele seja profundamente injusto para a maioria.
Faça a experiência: leia com atenção o seu jornal, ou veja o noticiário da TV, rádio, em qualquer emissora e você vai se dar conta que é isso que os jornalistas fazem o tempo todo: repetir Giuseppe Tomasi di Lampedusa, de 'Il Gattopardo', quando ele afirma que "Algo deve mudar para que tudo continue igual".