Imprensa Tabajara
Me abasteço em uma notícia e em um artigo do Coletiva para falar hoje sobre imprensa e avaliação de fatos jornalísticos e funcionais. A …
Me abasteço em uma notícia e em um artigo do Coletiva para falar hoje sobre imprensa e avaliação de fatos jornalísticos e funcionais. A notícia é sobre o lançamento da edição que acho que podemos classificar de histórica do Jornal do Sindicato dos Jornalistas RS que homenageou alguns nomes das redações gaúchas. Merecidamente, por sinal, embora listas sejam sempre parciais e injustas. No caso da matéria do Coojornal em que faltaram "apenas" os nomes dos fundadores, é daquelas questões básicas em jornalismo que são imperdoáveis. Não só é culpa de quem prospectou os dados, mas também do editor que, acredita-se, seja sempre o mais experiente e encontre os buracos de uma matéria e dê jeito de cobri-los.
Tenho visto muito vexame ultimamente. No episódio da morte de Paulo Autran, por exemplo, a Record News deu banho de agilidade, arquivo e informação. Horas no ar saudando com justeza o ator que foi o mais importante do teatro moderno brasileiro. Tudo ia bem até que a repórter que acompanhava o velório entrevistou Karin Rodrigues, a atriz que viveu com Autran como sua esposa. Sem mais saber o que perguntar, e a entrevista já se arrastava porque tudo já tinha sido dito, a moça perguntou: "A senhora trabalhou com ele alguma vez?"
Santo Deus! Como é que alguém vai para uma entrevista sem ler nada sobre a pessoa com quem vai falar? Se tivesse ao menos se informado sobre a vida do morto, saberia quantas vezes Karin esteve a seu lado atuando e evitaria a vergonha de ouvir isso da boca da própria entrevistada.
No artigo do André Arnt, ele cobra um trabalho minucioso das mídias para descobrir o que, afinal, no que toca ao pessoal empregado em governo, sobrecarrega as contas públicas. É exatamente isso. Hoje, se repetem releases e se ouvem entrevistas sem investigar causas e tentar ver conseqüências de nada. É um jornalismo plano, em que parece que a notícia vale por si só. Não há fontes alternativas, não há pesquisa (quando há, se resume a um quadrinho desconectado do texto, às vezes numa ridícula linguagem "para crianças", como se criança da era da web fosse bobinha) tampouco suitagem.
No caso de funcionários públicos que são um peso nas contas do Estado, não é preciso muito esforço para apurar dados. Há muitos jornalistas dividindo horas de trabalho entre veículos de comunicação e assessorias de imprensa oficiais. Por si só, uma coisa complicada. Não são poucos os casos de concursados que ganham para trabalhar 8 horas por dia e têm no Estado apenas um complemento de renda e um emprego a que dão apenas meio-turno (quando dão!), porque o emprego real, em que batem ponto e, se atrasarem ou faltarem, terão punição, é o que lhes interessa.
Sei do caso de um destes "profissionais" que ou um mês sem aparecer na assessoria. Ao ser chamado, foi muito franco: "Ganho muito pouco para trabalhar aqui, se quiser que eu trabalhe então me dê o site para eu abastecer em casa". Quando a "solicitação" lhe foi negada, simplesmente se licenciou.
Não é nem o caso de cumprimento de horas pelo simples cumprimento de um contrato assinado. O buraco é mais embaixo: é preciso produção e produtividade. E isso se aplica também a contratados, muitos deles apadrinhados que são encostados em órgãos públicos e lá aparecem quando querem, para bater papo e recolher o contracheque.
Se não houver uma urgente tomada de consciência dos governantes sobre o fato de que quantidade de gente nunca foi sinônimo de qualidade, que funcionário desmotivado e sem comando é candidato às filas da biometria para atestados por depressão e outros problemas do gênero, e que ainda existem funcionários públicos que nem mesmo um mail sabem ar (tampouco ganharam ou ganham um curso ou orientação específica que sejam para se atualizar e aperfeiçoar), Yeda Crusius e seja quem for vai bater na parede e nada vai resolver. E quem paga imposto vai continuar sustentando uma máquina pública inoperante e eternamente hostilizada.