História sem fim

No cinema, os heróis são construídos com base nos conceitos da mitologia, rica em estabelecer comportamentos que se repetem ? os denominados arquétipos. Porém, …

No cinema, os heróis são construídos com base nos conceitos da mitologia, rica em estabelecer comportamentos que se repetem - os denominados arquétipos. Porém, uma pessoa pode desempenhar mais de um arquétipo em sua jornada. O psicanalista suíço Carl Jung sistematizou, no estudo de padrões de condutas humanas, a forte presença de papéis e personagens que regem o drama de nossas vidas, mesmo em sonhos. Teóricos da indústria do cinema transpam esses conceitos junguianos para a construção de roteiros cinematográficos. Em A jornada do Escritor, de Christopher Vogler (Ed. Nova Fronteira, 2006), Fu Lana conheceu essa estrutura.


Cada um de nós é o herói de sua própria jornada. Nela, muitos serão os mentores, os sábios conselheiros, que irão estimular o herói a aceitar o chamado à aventura.


O Sombra será o vilão a ser enfrentado na batalha final. É importante destacar que o vilão se acha o herói de seu tempo. Veja Hitler ou Mussolini.


O Pícaro trata-se de uma figura cômica que pode tornar seu humor útil aos inimigos ou aos aliados.


E o camaleão é um ser ambíguo. Ora está de um lado, ora de outro.


Fazendo um exercício de realidade com base no livro, Fu Lana e alguns amigos, em uma mesa, bebendo vinho, imaginaram a existência de dois heróis: César Busatto e Paulo Feijó.


A jornada de Busatto


Ele vive em seu mundo-comum, na prefeitura de Porto Alegre, quando recebe o chamado à aventura: participar do Governo Yeda. Reluta, resiste. Porém, seus mentores o convencem e ele atende ao chamado fazendo o papel de pacificador, realizando uma série de expectativas especiais. Ele cumpre, assim, a travessia do primeiro limiar, acompanhando a montagem do Governo, acomodando os partidos e, em uma função anima e animus - quando o herói adquire os valores do sexo oposto para incrementar força e poder - até mesmo chora, ando pelo teste dos aliados e inimigos. Uma das situações com as quais se depara na caverna oculta é a oposição entre a governadora e o vice-governador, que, embora tenha sido fiador da campanha política, encontra-se exilado.


A jornada de Feijó


Feijó está em seu mundo-comum, vivendo como empresário, e recebe um chamado à aventura. Ele nega, como todo o herói no início de sua jornada. No entanto, alguns mentores dele se aproximam, grandes empresários, e o estimulam para que entre no governo, pois há tudo de bom em estar no centro das decisões. Sua jornada é mais infeliz do que a do outro personagem, pois, vencido o primeiro limiar, embora avalista do grupo vencedor, é secundarizado junto à sua tribo, e escanteado. Os aliados tornam-se inimigos e não ouvem suas idéias, que ajudaram a eleger o Governo. Na caverna oculta, se coloca um dilema e Feijó a por privações. Mas as aventuras são feitas de idas e vindas.


A provação de Busatto


Durante a jornada, revela-se a Busatto a existência de um enorme foco de corrupção no Governo do qual se tornou mentor. O vice-governador, fiador da jornada, torna-se o inimigo, mas Busatto acredita que é possível transformar o Sombra-Feijó em aliado. Vai à caverna oculta.


A missão de Feijó


Marginalizado, Feijó, o herói de si mesmo, percebe que seus antigos aliados são agora inimigos (Sombras) e portanto não se furta em utilizar qualquer estratagema para vencer seus inimigos, que se apresentam muito poderosos. Por isso, ao se defrontar com o representante desses inimigos, prepara-lhe uma armadilha. Ao gravar uma conversa comprometedora, divulga-a à tribo.


Esse ato provocou um alvoroço que confundiu heróis com vilões, inimigos com aliados e a nova acomodação de forças atropelou as questões éticas.


As fases subseqüentes dessa jornada do escritor estão em aberto. Elas seriam: a recompensa do caminho de volta e a ressurreição com o elixir.


O final do roteiro, que levará ao sucesso ou ao fracasso do filme, depende do discernimento da platéia. Tim-tim.

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