Há algo de muito podre no governo de Bolsonaro

Por Márcia Martins

De uma maneira um tanto covarde e até para não massacrar tanto os leitores e as leitoras (e juro que existem), tenho me censurado um pouco para evitar comentar tantas barbaridades cometidas no Brasil, principalmente desde que Bolsonaro assumiu o comando do País. Na semana ada, contive o desejo de escrever algo sobre o desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, na Região do Vale do Javari (Amazonas). Acreditava (às vezes, eu ainda tenho esperanças) na solução do sumiço dos dois, vistos pela última vez no dia 5 de junho.

Mas, 11 dias depois do desaparecimento, e do enorme e descabido desrespeito das autoridades com as famílias envolvidas nesta tragédia, não é possível mais me calar. Há sim algo de muito podre no governo de Bolsonaro. É urgente gritar, denunciar, protestar e exigir respostas.

Tudo cheira muito mau nesse caso do sumiço de Dom Phillips e Bruno Pereira.

A omissão do Governo Federal. A declaração do presidente da Nação de que os dois encontravam-se em uma aventura não recomendável, "numa região completamente selvagem", ao destacar que tudo pode acontecer: um acidente ou uma execução. A ausência de celeridade nas buscas. O desencontro total de informações da Polícia Federal. E o telefonema da Embaixada do Brasil em Londres alertando sobre a descoberta dos corpos, ainda não confirmada.

Não sou uma pessoa pessimista. Só que meu lado realista desponta com força neste País desgovernado, neste cenário de desprezo do presidente e de toda sua equipe com vidas humanas, neste caos de impunidade, neste terreno sujo de irresponsabilidade. Onde as autoridades federais imaginam que tudo podem e usurpam do seu papel.

A indignação com uma série de atos ocorridos desde janeiro de 2019, quando o

35º Presidente do Brasil tomou posse, necessita ganhar força. Antes que mais crimes sejam cometidos pelo governo da necropolítica. Até hoje, 51 meses após, não sabemos quem mandou matar Marielle Franco e o motivo, uma investigação que segue sem resposta. O desaparecimento de Dom e Bruno na Amazônia não pode ficar no esquecimento, sem apuração devida, sem punição aos culpados.

Que projeto de País é este matador de pessoas que se destacam na luta pelo direito de outras pessoas? Que governo é este que não consegue ou não quer ser ágil nas respostas destes crimes? 

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve agens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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