Gripe família livro etc. MPB não
Família não está no contexto afetivo. Família é o texto. (M.A.) Estava alinhavando ideias para escrever sobre alguns dos antigos locais movimentados da MPB …
Família não está no contexto afetivo.
Família é o texto. (M.A.)
Estava alinhavando ideias para escrever sobre alguns dos antigos locais movimentados da MPB no Rio de Janeiro e na Paulicéia e um dos motivos pelos quais Vinicius de Moraes queimou a língua ao afirmar que São Paulo era "o túmulo do samba".
Uma gripe me pegou com força e me faltou energia para colher alguns dados que cobrissem os buracos da memória.
Já a família é coisa tão próxima que não carece de memória.
Lembrei-me do então colega e já amigo aqui de Coletiva, o Fraga, e sua inesquecível crônica de 30. 03.2007 - Os Menda e eu -, um maravilhoso tributo de gratidão a uma família que lhe fez um grande bem.
Tenho escrito aqui sobre a farta e generosa dádiva que a vida me ofertou, a amizade e convívio de gente de tantas atividades e níveis que seria - face à quantidade - impossível de nominar.
O destino antecipou-se e me deu, desde o berço, pais e irmãos onde o amor foi sempre prioritário. Afirmo que nunca pude ser carente, já era amado antes da parteira Ema (a Cegonha estaria muito ocupada?) apresentar-me ao mundo. Quando, em 1976, imitei o poeta maior, Drummond, em Campo de Flores, Aurea e eu - apesar dos 19 anos de diferença etária -, demos início à nossa própria família:
Deus me deu um amor no tempo de madureza,
quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme.
?
Onde não há jardim, as flores nascem de um
secreto investimento em formas improváveis.
Quando nasceu a primogênita biológica, em 1978 - Rachel -, eu já completara 47 anos. Virei um pai-avô.
Hoje, sexta-feira, 8 de maio, a primogênita caçula - Carla - está completando 29 anos.
Já escrevi alhures que a poesia pode estar em qualquer parte, desde que coincida também em nós.
Numa tarde em que chovia, Tom Jobim me anunciou que o Rio estava plúmbeo. Aquela chuva virou poesia, que pode estar numa formiga carregando uma folha, num sorriso de bebê ou até num livro. Basta que também esteja na gente.
Carla nasceu 35 anos depois do dia em que o Eixo se rendeu na 2ª Grande Guerra. Eu, ginasiano, recebi essa notícia numa aula de Francês, cuja professora - Madame Mariná - era uma refugiada parisiense. A chegada da Carla cristalizou essa data como poesia.
Hoje, entrei na Internet e coloquei Carla da Silva Almeida no Google. Depois mandei esse e-mail para ela, com cópia para a mãe, irmã e Bernardo, o marido:
Botafogo, 8 de maio de 1980, 23h30min
Carla, filha
A gente ama você desde aquela noite do seu primeiro choro.
Filha é amor, claro.
Um dia a gente dá um balanço e descobre que a gente ama muito a pessoa. É o caso.
Continue feliz, continuando a fazer a gente feliz.
Beijos de um pai também feliz por ter a família que tem.
Mario.
Essa é a cara:
Carla da Silva Almeida
Doutoranda do programa de Pós-graduação
Mestre
Área de concentração: jornalismo e divulgação científica.
Rachel, a primogênita, começou sua vida profissional, desde que se formou em Jornalismo, no Jornal do Brasil. Até há pouco, estava voltada para reportagens e entrevistas nas áreas artísticas, com dezenas de viagens a trabalho. Há meses, é a editora-assistente da revista Domingo, do mesmo JB.
Carla fez o correspondente ao 2º ano do Segundo Grau em Ypisilanti, Michigan, onde ganhou uma nova "família"; desde que entrou para o Jornalismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, estagiou nas publicações Ciência e Jornal da Ciência, publicações da SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - e, antes de se formar, já era editora remunerada; foi fazer um "frila" na Fundação Oswaldo Cruz e, ao término, era contratada; lá no Museu da Vida, ganhou bolsa de um ano em Londres para voltar com um diploma de mestre
Entre outros ganhos, em setembro de 2000, ganhou Júlia, a filha e, em 2005, junto com dois colegas, publicou Cordel e Ciência - A Ciência
Este velho jornalista sem diploma termina por aqui, feliz por haver aproveitado uma gripe para prestar tributo à própria vida.
Inté.
PS. Em agosto de ano ado, comecei escrever um livro que seria o meu almanaque pessoal. Fim do ano, descobri que havia escrito dois livros. Acabei de editorar Aberto para Balanço, o primeiro deles.
Quem se der com um editor otimista e me recomendar, este velho inda ficará mais feliz de colocar no mercado o seu sexto livro.
