Grampear, verbo de ligação

Grampeie os outros antes que te grampeiem. Grampeie os suspeitos sem deixar de suspeitar dos que não foram grampeados ainda. Grampeie a torto e …





















































Grampeie os outros antes que te grampeiem. Grampeie os suspeitos sem deixar de suspeitar dos que não foram grampeados ainda. Grampeie a torto e a direito, isto é, a esquerda e a direita. Grampeie por interesses corporativos, interesses escusos, sobretudo interesses interesseiros. Grampeie 25 horas por dia. Grampeie superiores, subordinados, altos e baixos escalões. Grampeie em todo o território nacional. Grampeie em qualquer idioma. Grampeie com aparelhos ou com a orelha mesmo. Grampeie em dias chuvosos ou ensolarados. Grampeie de fio a pavio, e até sem fio de meada. Grampeie às suas custas ou com verbas federais, estaduais, municipais. Grampeie pra valer, pra se valorizar, pra desvalorizar os outros. Grampeie por que tá na moda, porque tá mundo grampeando, pra não ser diferente. Grampeie telefones, celulares, orelhões, cabines, telefônicas, centrais de telemárquetim. Grampeie disfarçadamente, anonimamente, secretamente. Grampeie com suas próprias mãos, terceirize a grampeação, ou use uma delivery grampeadora. Grampeie de gravata, em estilo casual, de traje a rigor e também nuzinho. Grampeie enquanto come, fuma, bebe, injeta, cheira. Grampeie em silêncio, assobiando, falando sozinho, cantarolando, pensando em voz alta, fazendo mímica. Grampeie a sós, acompanhado por amigos, em família, com a turma, com desconhecidos. Grampeie por orgulho, por necessidade, por aptidão, por falta do que fazer. Grampeie. O pior que pode acontecer é nada acontecer.



Eu sou do tempo em que os alunos matavam as aulas,
e não o contrário.



A melhor maneira de absorver noções de anatomia
é através de um bom atlas científico, nunca por meio
de facadas ou balas perdidas.



A dor ensina a gemer, mas agora, com tantos e feridos
diariamente nas escolas, chegou-se à pós-graduação.



De todas as armas que os jovens podem levar para as salas de aula,
a mais perigosa de todas, fornecida pelos pais, é a prepotência.



Uma coisa é um aluno ´apanhar´ de uma matéria mais difícil
para ele; outra bem diferente é um professor apanhar de um aluno.



Muros e grades e não impedem que a violência entre na escola.
Afinal, ela já está matriculada lá, onde também muitas vezes leciona.



Entre a Academia Brasileira de Letras e as academias de
artes marciais, o coração do estudante não balança.



Segundo a sociedade, pôr alunos de castigo contradiz
os direitos humanos. Segundo o Estado, aviltar os salários
dos professores não é nenhuma contradição.



O autoritarismo prejudica o aprendizado.
A falta de autoridade faz mal ao ensino.



Se não fosse a merenda escolar diária, a evasão seria maior;
se não fossem as invasões cotidianas, o pesadelo seria menor.



Neste momento delicado, a pedagogia e a didática
podem e devem ser questionadas.
Claro, sem nenhuma lâmpada acesa na cara delas
ou um delegado interrogando.



Claro que conhecimento e cultura não salvam a pátria.
Mas pelo menos fariam menos vítimas
que a ignorância e a falta de educação.



Enquanto não se discutir as mazelas da educação nacional,
as discussões entre o corpo docente e o corpo discente
vão ser sempre resolvidas no corpo-a-corpo.



Etc.



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Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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