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Por Flávio Dutra 446e69

04/04/2022 11:12
Golpistas em ação

Uma versão gaudéria do Impostor do Tinder confirma que este tipo de vigarice está globalizado. Na serra gaúcha foi desmascarado o boa pinta Guilherme Selister, de 27 anos, que se ava por  nutricionista, veterinário, engenheiro, cardiologista e militar do Exército e da Marinha para se aproximar das vítimas, obtendo vantagens financeiras com moças e senhoras que caíram nas mentiras dele, apesar de episódios cheios de incongruências. 201w1x

O Impostor do Tinder é uma das cinco séries atuais oferecidas pelos canais de streaming sobre trambiqueiros e trambiqueiras internacionais, todas baseadas em histórias reais. A série do Netflix relata o caso do israelense Simon Leviev (na verdade Shimon Hayut)  que dizia ser um magnata dos diamantes, conquistava mulheres pelas redes sociais e roubava milhões de dólares delas para sustentar sua vida custosamente prazerosa. 

O Netflix, que parece ter descoberto o filão das séries sobre fraudes, apresenta outras três produções, com destaque para Inventando Anna, que romantiza a história de Anna Delvey  - ou Anna Sorokin, seu nome real -, uma impostora nascida na Rússia que se mudou para Nova Iorque e fingiu ser uma herdeira alemã para enganar os ricos e famosos. 

Ainda no Netflix, outra história envolvendo uma relação amorosa que acaba em fraude: De Rainha do Veganismo à Foragida (Bad Vegana, no original), sobre uma chef de conceituado restaurante vegano de Nova Iorque, que perde o controle da própria vida e milhões de dólares ao se casar com um homem misterioso, que garante poder imortalizar o amado cachorro dela.

Mais Netflix: a série Fyre Festival sobre o que prometia ser uma experiência musical de luxo numa ilha exclusiva (um Woodstock sofisticado), mas nada do anunciado pelo empresário Billy Mc Farlaqnd virou realidade e o evento em si foi um pesadelo para quem compareceu e encontrou as piores condições possíveis.

Para completar o quinteto de vigarices cinematográficas, o Star+ conta em The Dropout o escândalo envolvendo a empresária Elizabeth Holmes, que graças a um suposto sistema revolucionário de teste de sangue, se projetou no cenário empresarial dos EUA, até ser desmascarada e enfrentar uma dúzia de acusações de fraude e conspiração.

Em comum em todas as situações temos de um lado trapaceiros espertíssimos, criativos e envolventes (golpista 171 burraldo não tem futuro!), com uma história muitas vezes inverossímil, mas que funciona; de outra um bando de trouxas, que se dividem em duas categorias: os ingênuos, receptivos a qualquer lorota, e os oportunistas metidos a espertos, que querem levar vantagem e o que acabam levando é golpes.

Aqui no Brasil os perfis dos autores e das vítimas não são muito diferentes. O que muda é o tamanho do prejuízo. As vigarices documentadas nas séries envolvem milhões de dólares, enquanto os golpes à brasileira, casos de corrupção à parte, são em geral de pequena monta, mas muito ágeis e persistentes, com ganhos de escala para valerem a pena. O anúncio de uma benesse do governo para os despossuídos corresponde ao dia seguinte ao pipocar de golpes por todo o país. 

A verdade é que ninguém está livre de ser vítima, ainda mais agora que os golpes são potencializados pelos canais da internet. Todos dos dias recebo alertas de segurança de bancos onde não tenho conta, faturas a pagar de compras que não fiz ou de contas pagas que estariam em atraso e ameaçadas de cobrança em cartório, ofertas tentadoras altamente suspeitas, sem contar os ?oi? daquelas moçoilas ?filhas de policiais? que querem estabelecer um relacionamento íntimo ou das militares estrangeiras e carentes que estão servindo no Iraque e, ainda, as investidas internacionais oferecendo ajuda para resgatar uma grana alta que teriam me deixado de herança no Reino Unido ou ótimas oportunidades de negócios num país africano. Uma verdadeira diversidade, sem limites Apesar do assédio, continuo invicto, por enquanto. 

Por vergonha ou porque não acredita que possa recuperar o dinheiro perdido, cerca de 40% das vítimas de fraudes não contam o que aconteceu para ninguém, aponta estudo de 2020 da Comissão Europeia.

Entretanto, se serve de consolo, pelo menos nas histórias das séries, os mais malandros acabam tropeçando na própria malandragem. É exemplar o caso do Golpista do Tinder, que caiu na armadilha preparada por uma das ex-vítimas. O detalhe é que o sujeito já está livre, leve e solto em Israel, depois de cumprir apenas cinco dos 15 meses de pena. Foi solto por bom comportamento, o que confirma a assertiva de que vigarista inepto não tem futuro.

Aliás, pensei que já tivesse visto de tudo no ramo do charlatanismo e eis que recebo a informação de que o mendigo de Brasília, aquele que transou com a mulher do personal trainer, nem sempre foi mendigo, mas um ex-empresário de transportes  que se especializou em estelionatos, levou a empresa a falência e responde a mais de 100 processos. Só que tudo isso pode ser igualmente falso e aí não dá pra confiar nem nos mendigos e em ninguém mais. Realmente, o Brasil não é para amadores. Voltaremos.