Gangorra

"Moro…  Num país tropical Abençoado por Deus E bonito por natureza…"Jorge Benjor, ex-Jorge Ben Realidade à qual o brasileiro se acostuma ? ou não ? …

"Moro">Jorge Benjor, ex-Jorge Ben


Realidade à qual o brasileiro se acostuma - ou não - é viver - obrigado ou não - numa sociedade avançada em muitos aspectos, atrasada em outros e com imensa quantidade de órgãos públicos que parecem estacionados nos tempos da abertura dos portos por Dom João, quando ele ainda nem era o VI.


Como cidadão, acompanhei as muitas lutas parlamentares do professor, advogado e jornalista Nelson Carneiro (1910/96), três vezes deputado federal e, outras tantas, senador. 


A sociedade deve a Nelson diversos avanços na legislação trabalhista, nos direitos da mulher e 26 anos de luta contínua, principalmente contra a Igreja, luta cuja última batalha, em 1977, culminou, depois do estágio no desquite, com o divórcio.


Devemos a Afonso Arinos o desmentido da falácia que não existe preconceito racial no Brasil e cuja lei, que leva seu nome, penaliza seus contraventores.


A sociedade abriu as janelas para os direitos civis e deu amparo às relações secularmente marginalizadas, incluindo as extraconjugais e homossexuais.  


As empresas brasileiras estão inseridas numa caixa de surpresas, onde o "freguês" transita entre o péssimo e o excelente, fato que, na istração e nos serviços públicos, o péssimo ganha de goleada do excelente.


Em muitas concessões de serviços públicos, como o da energia elétrica, o cidadão honesto paga uma tarifa onerada pelo cidadão desonesto que, através dos chamados "gatos", furta energia. O empresário Francisco Recarey acaba de ser condenado, no Rio, a sete anos de prisão por esse crime.


No caso do Rio, as tarifas são muito agravadas pelos governos estadual e federal. Os tributos que incidem no caso da energia elétrica somam mais de 60%. Arredondando: quem consome 100 reais de energia elétrica paga 160!


Um empresário da educação contou-me que entrou num escritório de contabilidade - em Miami - e, duas horas depois, saiu com toda a documentação legal para iniciar as atividades da filial de seu colégio naquela cidade.


Em São Paulo, centro econômico do país, o prazo médio para se abrir uma empresa é de 65 dias.


Contrastes: aviões fabricados em São José dos Campos têm mercado internacional; a Petrobras é a maior referência mundial em extração de petróleo em águas profundas; há centros de excelência internacional em cirurgia cardíaca e oftalmologia em diversas cidades; agrônomos brasileiros são premiados por práticas revolucionárias nas modificações do solo para a agricultura - e não há um único lugar, no país, onde se abra uma empresa em menos de 45 dias. O avião concorre com o carro de boi!


Caso intrigante é a "reserva de mercado" na Justiça, que só produz documentos redigidos em dialeto próprio. Outro dia, num exercício lúdico, reduzi, para 54%, uma sentença judicial, traduzindo-a para o português corrente. Só faltam inventar o ofício de tradutor juramentado para sentenças judiciais!


Outro caso interessante é o dos consulados norte-americanos no Brasil. Enquanto em Miami abre-se uma empresa em duas horas, aqui o consulado não fornece um visto de entrada para o seu país em menos de trinta dias. Conclusão anedótica: os gringos, muito satisfeitos em trabalhar no Brasil, ainda viram baianos!


Aconselho a quem faz questão de mandar a criançada para a Disneyland ou Disneyworld, que mande para a Eurodisney. A proximidade com Paris até paga todas as eventuais despesas com os Mac Donald"s para quem não tem sensibilidade gustativa e entope tudo com ketchup.


Os museus do Louvre, D"Orsay, Jeu de Pomme, Picasso, de Arte Moderna e o grande espaço Pompidou são investimentos sem preço em real, dólar ou euro e que transcendem a mágica e a fantasia dos Disney. A Eurodisney, face à sua localização, tem um "algo mais" onde o "algo" é mais importante que o resto.


A MF - Contribuição Provisória sobre a Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira - substituta do Imposto Provisório, criado em 1993, continua, para vergonha do vernáculo, provisória (Quosque tandem, Catilina, abutere patientia nostra?).


As contingências naturais dessa realidade criaram uma cultura própria, específica e inível aos estrangeiros. Impossível, por exemplo, entender um povo em que o desperdício é regra e o uso racional dos recursos existentes, exceção.  


Esses pequenos exemplos dos altos e baixos desta grande nação evidenciam que vivemos sentados numa gangorra metafórica, ora em cima, ora em baixo, às vezes vítimas de quedas bruscas, coisa que acontece sempre que anunciam um novo plano econômico.


Os mais espertos previnem-se com um amortecedor traseiro. Haja bunda!


Inté.

Autor
Mario de Almeida é jornalista, publicitário e escritor.

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