Fronteiras como metáfora
Por Flávio Dutra

Participo do Fronteiras do Pensamento desde a primeira edição em 2007. Presenciei de A a Z boa parte das mais de 170 conferências de grandes pensadores, do escritor Amós Oz ao sociólogo Zygmunt Bauman, ando por todo o abecedário de intelectuais, de todas as áreas do conhecimento e de variadas nacionalidades. Nunca antes Porto Alegre foi agraciada com as idéias de tantos Prêmios Nobel trazidos pelo Fronteiras: o economista indiano Amartya Sem, o médico congolês Denis Mukwege, o economista norte-americano Edmund Phelps, o líder timorense José Ramos-Horta, o ex-presidente polonês Lech Walesa, o escritor colombiano Mário Vargas Llosa, escritor turco Orhan Pamuk. Tive algumas poucas frustrações, como a conferência de Tom Wolfe, um dos expoentes do chamado Novo Jornalismo, que fez participação apenas cumpridora em 2011.
Minhas relações com o Fronteiras se estreitaram ainda mais quando tive o privilégio de apresentar uma das conferências, a da psicanalista Maria Lucia Khel em 2009. Por pouco não fui vaiado, quando, para ganhar tempo, tentei encurtar o espaço de perguntas da platéia. Acabei salvo pela generosa conferencista, que se dispôs a responder a três perguntas por vez e foi muito aplaudida, enquanto encerrei ali minha iniciante carreira de âncora de eventos.
Particularmente gosto do termo fronteiras, que compõe o nome do evento e remete a limites, só que prefiro a ideia de fronteiras como espaços que precisam ser transpostos, explorados e conquistados. No sentido mais amplo, penso que é uma metáfora condizente para a busca de conhecimentos a que se propõe o Fronteiras do Pensamento, num processo que mexe com nosso ambiente cultural, provoca reflexão, promove a pluralidade de posições, aprofunda e compartilha novos saberes para além da academia.
O evento, idealizado pelo João Ruy Freire, à época diretor de Relações Institucionais da Braskem, juntamente com a curadoria do mestre Fernando Schiller e produção detalhista da equipe do Pedro Longhi, chega agora à 15º edição, com novidades. Este ano, o Fronteiras troca de local, do Anfiteatro da UFRGS para a Casa da Ospa, no Centro istrativo do Estado, mas mantém alta a régua dos palestrantes, num sistema híbrido, parte on-line e a volta do presencial. Com o tema da hora, Tecnologias para a Vida, a partir do dia 10 de agosto começa o ciclo com o neurocientista norte-americano Stuart Firestein e a pesquisadora brasileira Natalia Pasternak. Depois, até novembro, ocorrem as participações de Frédéric Martel, Steven Johnson, Luc Ferry, Élisabeth Roudinesco e Marcelo Gleiser (presenciais), Jorge Caldeira, Maria Homem, Martha Gabriel, Mayana Zatz, Rodrigo Petronio e Sidarta Ribeiro (online).
Conjuntos de instrumentistas da Ospa farão apresentações musicais na abertura de cada conferência, com a condução do maestro Evandro Matté. Outra novidade será a parceria com a Bienal do Mercosul, que permitirá aos participantes do Fronteiras conferir a instalação Experimento de Suspensão nº 1, uma pedra filosofal suspensa por fios que a deixam flutuando no ar, obra de Paulo Nenflidio.
Incorporando a parceria com a Ospa e a Bienal do Mercosul, o Fronteiras do Pensamento amplia ainda mais sua característica multicultural. E assim celebra duas instituições icônicas, que orgulham e projetam nossa Porto Alegre de 250 anos.
Já recebi meu kit de o e agora "bora lá", como falam os moderninhos.