Frases
Uma das frases lapidares da nossa filosofia pertence não a um guru politicamente correto das universidades, desses que gastam papel, tinta e impostos para …
Uma das frases lapidares da nossa filosofia pertence não a um guru politicamente correto das universidades, desses que gastam papel, tinta e impostos para definir o enigma chamado "caráter brasileiro", mas veio de graça, da boca do músico e compositor Benedito Lacerda, bem mais próximo da homem da rua.
Foi em 1939, quando ele e Humberto Porto se consagraram no Carnaval com "A Jardineira", aquela do
por que estás tão triste,
mas o que foi que te aconteceu?
Foi a camélia que caiu do galho,
Deu dois suspiros e depois morreu.
Tão logo a marchinha "estourou" na parada de sucessos, rebentou o escândalo: era plágio descarado da canção que, em 1906, Candinho das Laranjeiras fizera para seu bloco Flor ou Filhos da Primavera.
Até paródia da marcha tinha havido em 1922, quando os aviadores portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, para homenagear o Centenário da Independência do Brasil, refizeram a rota de Pedro Álvares Cabral, mas de hidroavião, realizando o primeiro vôo. A viagem fora dramática, com perda de dois hidroaviões, o último deles naufragando
A galhofa brasileira, a despeito do drama vivido por Sacadura Cabral e Gago Coutinho, e sem se dar conta de como era especial aquela homenagem, pois se tratava do primeiro vôo transoceânico da História, não os poupou. Com a melodia de A Jardineira, assim recebeu os dois heróis:
O Saquedura, por estás tão triste,
Mas o que foi que t"aconteceu?
Foi o abião que caiu nai água,
Deu dois pinotes e disapareceu.
Todo o mundo se lembrava, tanto do Candinho das Laranjeiras como da paródia de 1922, quando "A Jardineira" estourou no Carnaval de 1939. Confrontado com o plágio, Benedito Lacerda, artista de talento e sem nenhuma necessidade de "gadunhar" o alheio, cunhou a frase lapidar:
"Se a gente soubesse que ia dar tanto rolo, a gente não tinha feito."
Pois não é que, ados tantos anos, gente que não sabia que ia dar tanto rolo, está correndo para tirar o nome da relação dos pescadores profissionais, com direito a indenização por prejuízos sofridos com a matança dos peixes do Rio dos Sinos.
A notícia está
Tão logo a maroteira aflorou, gente que não sabia o rolo que ia dar, o benedito-lacerdismo entrou
O delegado da 2ª DP, de São Leopoldo, acredita que 50% da lista de 675 reivindicantes da indenização não sejam pescadores profissionais, o que sugere estelionato. Há na relação dos postulantes pelos menos dois mortos e um terceiro foi conhecido porque suas filhas nem sabiam da sua condição de associado da Z-5. O pai era pescador por esporte, já faz dois anos que morreu, portanto com eliminação obrigatória por falta de pagamento das taxas respectivas. Isso, sem contar que não jogava seu anzol no Rio dos Sinos.
Mais: desse equipamento profissional, a maior parte dele importado, não se exige documentação de procedência? A Polícia Federal não fiscaliza esses equipamentos, como o faz com computadores e outras traquitanas?
A essa altura dos acontecimentos, como a liminar da Justiça foi concedida liminarmente, sem verificação da identidade dos "lesados", se haviam ado procuração à Z-5 ou aos advogados para ser incluídos na ação, a visão do delegado da 2ª DP de São Leopoldo, de que há indícios de estelionato, convenhamos, é por demais modesta.
Perguntei ao Manuel, aquele filósofo português que não inventa anedota de brasileiro porque ser desnecessário, se ele não ia revidar a paródia que ridicularizava Sacadura Cabral e Gago Coutinho:
O pescadoire, por que estás tão triste?
Mas o que foi que t"aconteceu?
Manoel fez "não" com a cabeça, soltou aquela risadinha safada e apenas exclamou:
"Hummmm! Que peís gracioso!"