Flamengo: efeitos colaterais
Ser Flamengo é, antes de mais nada, uma tremenda falta de originalidade. Faz alguns anos que o Flamengo transformou-se num time, sem clube, e …
Ser Flamengo é, antes de mais nada, uma tremenda falta de originalidade.
Faz alguns anos que o Flamengo transformou-se num time, sem clube, e num clube, sem time.
Dirigentes fanfarrões, dívidas impagáveis, ausência de planejamento em um ambiente que, cada vez mais, demanda gestão, têm mergulhado o Clube numa sequência de briosos fracassos.
A mídia, no entanto, tece loas à marca. Afinal de contas, pesquisas apontam que há, no Brasil, mais de 30 milhões de flamenguistas, leiam-se consumidores.
Este ano, porém, algo mudou. O Flamengo acaba de sagrar-se campeão brasileiro de futebol e a mídia encharcou-se de notícias positivas acerca do Clube. São os torcedores que atuam na imprensa e polianas midiáticas, apologistas de tudo está bem quando acaba bem.
O Flamengo chegou ao título por pura e rara confluência dos astros. Contratou um talentoso ex-jogador em atividade com problemas para ter uma vida de atleta, fez um acerto trabalhista com outro de 37 anos, recebeu um jogador que havia sido mandado embora de um concorrente ao título e desandou a ganhar jogos.
Claro que, por outro lado, foi beneficiado por decisões do Tribunal de Justiça Desportiva que é, historicamente, benevolente com os times cariocas, sendo cruel com os demais.
Ora, este título do Flamengo é a cara de tudo que o Brasil tem de pior: ausência de planejamento, improviso, "ixperteza". Macunaíma do futebol!
Tão logo, confirmou-se a zebra, obtida no final com vitórias sobre dois times que entraram em campo para perder, surgiram os questionadores de políticas que vêm sendo seguidas por uns poucos clubes brasileiros, voltadas ao profissionalismo, ao pensamento do futebol a longo prazo e focadas em resultados de campo e econômicos.
Para a lógica que reina na sociedade brasileira do jeitinho, da boquinha, do carguinho, da sinecura, do "leve vantagem você também", a conquista do clube carioca é um néctar. Enfatiza o que temos de pior.
E não me venham chamar de colorado com dor-de-cotovelo!
Perguntando
Se esta significativa parcela da mídia fascinada por estrelas dedicasse uma semana ao jornalismo isento e investigasse o Enem, poderíamos ter uma prova séria em 2010?
Esta trupe do Tribunal de Contas do Estado que abraça prédio e protesta não poderia aproveitar a mobilização e afrontar os mais de 100 que recebem salários acima do teto no próprio Tribunal? Já que estão com a mão na massa?