Falo com....
Por Marino Boeira

Falo com Aldir Blanc (1946/2020)
Aldir, você é sem nenhum favor, um dos maiores poetas da música popular brasileira. Vou pedir que você me responda com alguns dos seus versos.
- A vida, como ela é?
- "A vida é um dilema /Nem sempre vale a pena"
- E a conversa com os amigos, como se faz?
- "Amigo, há quanto tempo/ Um ano ou mais
-Posso sentar um pouco? /Faça o favor / Muito obrigado, amigo/ Não tem de quê / Por você ter me ouvido/ Amigo é pra essas coisas (Amigos é pra essas coisas)
_E os bares da noite?
- "De tomara-que-caia surge a crooner do norte / Nem aplausos, nem vaias: um silêncio de morte / Ah, quem sabe de si nesses bares escuros / Quem sabe dos outros, das grades, dos muros" (A Crooner do Norte)
- E como eram as mulheres com as quais você sonhava?
"No dedo, um falso brilhante / Brincos iguais ao colar
E a ponta de um torturante / Band-aid no calcanhar" (São dois pra lá, dois pra cá)
- E como fica a esperança para nós brasileiros?
- "Dança, na corda bamba de sombrinha / E em cada o dessa linha / Pode se machucar / Azar / A esperança equilibrista / Sabe que o show de todo artista / Tem que continuar". (O Bêbado e a Equilibrista)
- Como mostrar em versos a violência das grandes cidades e a indiferença das pessoas com os outros?
- "Tá lá o corpo estendido no chão / Em vez de rosto, uma foto de um gol / Em vez de reza, uma praga de alguém / E um silêncio servindo de amém (De frente pro crime)
- E o cinema, como era para você?
- "A sala cala, o jornal prepara / Quem está na sala com pipoca e bala / E o urubu sai voando / Manso (Bala com bala)
Esse urubu que todo mundo enxotava no cinema, era a marca de uma distribuidora de filmes, a Condor. Mas e os filmes como eram?
- "O tempo corre e o suor escorre / Vem alguém de porre e é um corre corre
E o mocinho chegando / Dando".
- E quando termina o filme, como você ficava?
"Quando a luz acende é uma tristeza, trapo, presa / Minha coragem muda em cansaço / Toda fita em série que se preza, dizem, reza / Acaba sempre no melhor pedaço."
- Pra encerrar nos fale de um grande herói brasileiro.
- "Conhecido como o almirante negro / Tinha a dignidade de um mestre-sal
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas / Foi saudado no porto / Pelas mocinhas sas / Jovens polacas e por batalhões de mulatas" (O Almirante Negro).
