Falo com...
Por Marino Boeira


Falo com Josué de Castro (1908 a 1973). Médico, geógrafo, político e escritor, autor do clássico 'Geografia da Fome' (1946).
- Você, Josué, dedicou boa parte de sua vida a combater a fome. Por que ela é tão importante assim?
- "Constitui, pois, a luta contra a fome, concebida em termos objetivos, o único caminho para a sobrevivência de nossa civilização, ameaçada em sua substância vital por seus próprios excessos, pelos abusos do poder econômico, por sua orgulhosa cegueira - numa palavra, por seu egocentrismo político, sua superada visão ptolomaica do mundo".
E por que ela é ainda tolerada, mesmo em países mais desenvolvidos?
- "O que falta é vontade política para mobilizar recursos a favor dos que têm fome.
Em que a fome interfere na vida dos países? A fome é a expressão biológica de males sociológicos. O progresso social não se exprime apenas pelo volume da renda global ou pela renda média per capita, que é uma abstração estatística. A verdade é que os povos chamados subdesenvolvidos já se aperceberam da profunda contradição que existe entre os preceitos morais de igualdade, fraternidade e humanitarismo, pregados e defendidos pelos teorizantes da civilização ocidental e a crua e cínica disputa pelo lucro a que se entregam os grupos mercantilistas dominantes nos países bem desenvolvidos e industrializados do mundo".
O que é preciso para que o mundo viva finalmente em paz?
- 'Os ingredientes da paz são o pão e o amor"
- Josué de Castro, você fez uma frase que ficou famosa por alertar que a fome, de alguma maneira, é uma ameaça a toda humanidade e não apenas aos que têm fome. Para encerrar essa entrevista, você poderia repeti-la?
- "Metade da humanidade não come e a outra não dorme, com medo da que não come".