Falo com...

Por Marino Boeira

Falo com James Joyce - Nascido na Irlanda e autor de um dos romances mais célebres da literatura ocidental - Ulisses - e também de outros livros famosos como O Retrato do Artista Quando Jovem, Dublinenses, Finnegans Wake e Os Mortos - 1882/1941

- Seu livro Ulisses é considerado pelos críticos literários como de leitura extremamente difícil, existindo inclusive livros com guias de leitura para essa obra. Como você vê seus leitores, Joyce.

- "A única exigência que faço aos meus leitores é que devem dedicar as suas vidas à leitura das minhas obras".

- Você ite que possa ter cometido enganos na sua vida de escritor?

- "Um homem de gênio não se engana. Seus erros são volitivos e são os portais da descoberta."

- Qual é o seu projeto de vida como escritor?

-"Sou amanhã, ou em outro dia futuro, o que estabeleço hoje. Sou hoje o que estabeleci ontem."

- No seu país, a Irlanda, sempre houve violência política. Como você vê isso?

- "Questões que se resolvem com violência nunca ficam resolvidas".

- E o amor, qual a sua importância?

- "O amor ama amar o amor".

- Qual o grande amor para os homens?

- "Tudo é incerto neste mundo hediondo, mas não o amor de uma mãe"

- Devemos prestar atenção na história?

- "A história é um pesadelo do qual estamos tentando acordar".

- Mesmo assim, você escreveu sobre ela no ensaio Irlanda, Santos e Sábios de 1907, se referindo à opressão que sofria da Inglaterra. Lembra do texto?

- "Os ingleses agora menosprezam os irlandeses porque eles são católicos, pobres e ignorantes; contudo, não será fácil justificar tal menosprezo a algumas pessoas. A Irlanda é pobre porque as leis inglesas arruinaram as indústrias do país, especialmente a indústria da lã, porque a omissão do governo inglês nos anos da carestia da batata permitiu que a maior parte da população morresse de fome e porque, sob a presente istração, enquanto a Irlanda está perdendo sua população e os crimes são quase inexistentes, os juízes recebem salário de um rei e os funcionários do governo e aqueles nos serviços públicos recebem imensas somas para fazer pouco ou nada".

- Você viveu muito tempo fora da Irlanda e quando voltou se sentiu um estrangeiro no país.  O que você disse dos irlandeses.

- "Eu odeio a Irlanda e os irlandeses. Eles me olham na rua pensando que eu nasci entre eles. Talvez eles percebam meu ódio em meus olhos. Não vejo nada em nenhum lado, a não ser a imagem do sacerdote adúltero e seus criados e mulheres mentirosas e maliciosas (Carta a mãe, em 1909, quando vivendo em Trieste, visitou a Irlanda por alguns dias).

- O que é importante no homem?

- "Ser justo antes de ser honesto"

- Qual o vício mais perigoso?

- "Masturbação! É impressionante como ela está sempre à nossa mão!"

- De que você tem medo?

 - "Não tenho medo de estar sozinho, de ser desdenhado por quem quer que seja, nem de deixar seja lá o que for que eu tenha que deixar. E não tenho medo, tampouco, de cometer um erro, um erro que dure toda a vida e talvez tanto quanto a própria eternidade mesma".

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

Comments