Falo com...

Por Marino Boeira

Falo com Millôr Fernandes (Rio de Janeiro - 1923/2012), jornalista, dramaturgo, escritor e poeta
- Mestre, qual é a lição para vencer na vida?
- "Com muita sabedoria, estudando muito, pensando muito, procurando compreender tudo e todo, um homem consegue, depois de mais ou menos quarenta anos de vida, aprender a ficar calado".
- Millôr, o Brasil está novamente às vésperas de uma eleição. Podemos confiar nos nossos políticos?
- "Político é um sujeito que convence todo mundo a fazer uma coisa da qual ele não tem convicção"
 - Nessa nova eleição, certamente um dos temas predominantes vai ser a corrupção. Você acha que uma qualidade do político é saber resistir as tentações que o sistema oferece?
- "Não devemos resistir às tentações: elas podem não voltar."
- Você como jornalista viveu vários períodos diferentes da nossa história, com democracia e ditadura se alternando. Como você vê a diferença entre um sistema e outro?
- "Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim."
- É verdade esse ditado popular que o dinheiro não traz felicidade?
- "O dinheiro não dá felicidade. Mas paga tudo o que ela gasta".
As pessoas dizem que o grande esteio da democracia é a imprensa. Você como jornalista, como enxerga a nossa imprensa?
- "A imprensa brasileira sempre foi canalha. Eu acredito que se a imprensa brasileira fosse um pouco melhor poderia ter uma influência realmente maravilhosa sobre o País. Acho que uma das grandes culpadas das condições do País, mais do que as forças que o dominam politicamente, é nossa imprensa. Repito, apesar de toda a evolução, nossa imprensa é lamentavelmente ruim. E não quero falar da televisão, que já nasceu pusilânime."
- Millôr, o Brasil vive hoje uma série de lutas identitárias. Uma delas e talvez a mais importante é a luta das mulheres. Como você vê o movimento feminista?
- "O melhor movimento feminino ainda é o dos quadris."
Para encerrar, Millôr, gostaria que você fizesse uma rápida análise de alguns dos nossos presidentes, começando pelo Juscelino.
- "Foi uma época de muita corrupção. Como é que o Juscelino pode fazer uma cidade em cinco anos num Estado democrático? Corrompendo todo mundo, é evidente. Uma corrupção avassaladora."
- José Sarney
-"Não tendo no cérebro os dois bits mínimos para orientá-lo na concordância entre sujeito e verbo, entre frase e frase, entre ideia e ideia, como exigir dele um programa de governo coerente?"
-   Fernando Henrique
- ""Fernando Henrique é um idiota. O Fernando Henrique é o Sarney em barroco. Ele não diz coisa com coisa."
-  E o Lula, Millôr?
- ""O Lula é divertido, vamos dizer assim. Logo que ele começou, eu disse um negócio e não tenho razão de retirar: 'A ignorância lhe subiu à cabeça'. Ele está pensando que sabe tudo e não sabe nada."

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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