Esperança

Vejo na TV a posse do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. São milhões de pessoas no local do evento e mais vários …

Vejo na TV a posse do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. São milhões de pessoas no local do evento e mais vários outros milhões (possivelmente bilhões, considerando o restante do mundo) de espectadores de rádio, TV e internet. Porém, o sentimento que move a todos é um só: esperança.


Esperança de recuperação econômica: desde setembro os Estados Unidos e o mundo vêm sendo assolados pela crise que teve início neste país. Está nas mãos deste presidente e de sua equipe econômica a tarefa de mostrar que o mundo não quebrou. Que teremos não uma marolinha, mas também não um tsunami.


Traz, principalmente, a esperança dos cidadãos negros norte-americanos. De que obtenham finalmente seu espaço naquele país. A ascensão dos negros e, mais do que isto, sua legitimação e estatura como raça tem um importantíssimo capítulo hoje. Apesar de, na minha opinião, Barack Obama ser um negro branco, era visível uma quantidade enorme de negros na platéia, o que mostra a leitura feita naquele país da ascensão do primeiro presidente negro.


Apesar de, revendo a história dos Estados Unidos, nos horrorizarmos com o racismo ao longo das décadas, uso uma metáfora psicanalítica: o primeiro o para resolver um problema é itir que você tem este problema. E aí, venho cá para o Brasil. Pela nossa miscigenação, temos negros de muitas tonalidades, o que talvez explique o nosso racismo disfarçado. Apesar de sermos um país cheio de negros, pardos, mulatos, não itimos que somos racistas. Mas chamamos o cidadão negro, muitas vezes, de "negrinho", numa clara manifestação racista velada (ou nem tanto).


Volto para a esperança. Se a posse de Barack Obama configura um momento de grande esperança e retomada de confiança, para o Brasil ela traz significados também. A esperança de que a assunção na presidência do primeiro presidente negro no país mais poderoso do mundo sirva para nos transmitir vários recados. O principal deles é que, já que gostamos de copiar (muitas com razão, outras sem nenhuma) tantas iniciativas e modismos dos americanos, que copiemos esta. A que mostra que, apesar de terem sofrido por muitos anos com o racismo, os negros lá têm a chance de ascender. É o sopro de esperança. Porque somente juntos (sejamos negros, brancos, mulatos, amarelos) conseguiremos fazer um mundo melhor e um lugar decente para se viver. Piegas ou não, é isto.

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