Elástico no Maracanã quase lotado
Por Renato Dornelles

Antes de começar a história, acho necessário explicar, para quem não é muito ligado ao futebol, o que é o drible conhecido como elástico. Recorro à Wikipédia:
"O elástico é um drible utilizado no futebol, que consiste em enganar o defensor adversário, no qual o jogador que está com a posse da bola ameaça ir para o lado contrário. Normalmente, ele é realizado na circunstância em que o jogador, utilizando o seu pé dominante, dá um leve toque na bola para a parte exterior, e rapidamente a traz para o lado interior do seu pé, sem que a bola perca o contato com a chuteira. O êxito do elástico depende bastante da velocidade e da aceleração em que se encontra o jogador que lhe aplica."
Rivellino, tricampeão mundial com a Seleção Brasileira, craque do Corinthians e do Fluminense, gostava muito de aplicar esse drible.
Agora vamos à história. Imaginem um Maracanã com um público superior a 70 mil pessoas. Era 3 de março, quinta-feira pré-Carnaval de 1997. Eu e o fotógrafo Guaracy Andrade havíamos chegado ao Rio para mais uma cobertura dos festejos de Momo, que incluiria a tradicional feijoada do Ricardo Amaral, a Banda de Ipanema e o Magic Ball, no Copacabana Palace, da manhã de sábado à madrugada de domingo, e os desfiles na Marquês de Sapucaí, no domingo e na segunda-feira.
Mas naquela noite de quinta-feira seria decidido o torneio Rio-São Paulo daquele ano, em um jogo entre o Flamengo e o Santos. Na primeira partida, o time paulista havia vencido por 2 a 1 e, portanto, agora poderia até empatar para ser campeão. Mesmo assim, o Flamengo era considerado franco favorito.
No Rio, eu e o Guaracy encontramos o também fotógrafo Ricardo Rimoli, então presidente da Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio Grande do Sul (Arfoc-RS). Por intermédio dele, fomos convidados a assistir ao jogo às margens do gramado do Maracanã.
Mas eu não queria apenas acompanhar a partida em local privilegiado. Precisava arrumar uma maneira de torná-la interessante para o público gaúcho, com uma pauta que fosse além dos 90 minutos de bola rolando e do levantamento de taça. Lembrei, então, que os dois atacantes do Flamengo, Romário e Sávio, estavam brigados e sequer se falavam. Estava aí a pauta: campeões, apesar de brigados. Bastava, para isso, pegar uma palavrinha de um e de outro e o Mengão confirmar o favoritismo.
Quando o Flamengo entrou em campo, as mais de 70 mil pessoas fizeram um barulho ensurdecedor. Com bloco e caneta na mão, em um tempo em que repórteres podiam entrar no gramado antes, no intervalo e depois dos jogos, avisei o Guaracy e fui ao encontro do Romário. Com a bola no pé, ele vinha em minha direção (ou eu ia na direção dele). Quando estávamos bem próximos, só deu tempo de eu dizer: "Romário, por favor..."
Com a conhecida habilidade, o famoso baixinho aplicou um elástico e sumiu da minha frente com a sua rapidez peculiar. Fiquei sem ação, enquanto o Guaracy morria de rir. O Rímoli, que estava mais distante, tentava entender o que estava acontecendo.
Sobre o jogo, o Santos saiu na frente no placar, Romário brilhou e virou com dois gols (um deles com e de Sávio e, na comemoração, cada um correu para um lado, confirmando a treta entre eles). Mas, faltando dois minutos para terminar a decisão, com um chute da intermediária, o lateral Juari empatou a partida. Santos campeão. Juro que não foi praga minha.