E se tudo começasse com uma formiga?
Por Luan Pires

Por onde ela caminha? O que vê? Será que percebe que faz parte de algo maior? Ela sente orgulho do seu trabalho ou apenas segue, sem pensar, carregando migalhas que parecem pesadas demais?
E se, ao invés de uma formiga, fosse uma criança indo para a escola? O que ela carrega nos ombros? Um caderno, um estojo, um medo? O que ela aprende? Só o que está nos livros ou também o jeito de existir ao lado dos outros?
Mas quem são os outros? E o que significa estar entre eles? Um bando de humanos tentando entender o próprio papel, como os animais que vivem em bandos, como os pássaros que desenham no céu rotas invisíveis?
E se os pássaros não tivessem para onde ir? Se as árvores fossem arrancadas, os rios secassem, as estações perdessem a ordem? Será que a natureza se importa com o que fazemos ou ela só espera, como um adulto paciente assistindo crianças brincarem de dono do mundo?
Mas o mundo é de alguém? Ou ele só gira, indiferente a quem sobe ou desce? O espaço, tão grande, já notou nossa existência ou somos poeira sem nome flutuando num universo que nem percebeu que chegamos?
E o que significa chegar? Ser humano é mais do que nascer? É o que se constrói? O que se deixa? O que se toca? E se tocar o outro for a única coisa que realmente importa? Mas tocar como? Com mãos ou com palavras? Com um olhar ou com um gesto? É preciso fazer algo grande ou a gentileza mínima de segurar a porta aberta já muda o dia de alguém?
E se mudar o dia de alguém for mudar o mundo? Se um ato pequeno for suficiente para mover engrenagens invisíveis? Se cada um que se sente parte de um todo puder enxergar que ninguém está sozinho? Mas o que significa não estar sozinho? Ter quem segure a mão ou quem escute em silêncio? Ter quem entenda sem precisar explicar?
E quem precisa explicar que diversidade não é ameaça? Que inclusão não é favor? Que igualdade não é um presente, mas um direito? E se o direito de ser quem se é fosse respeitado sempre? Como seria o mundo se todos se sentissem inteiros? E se inteireza fosse aceitar que somos pedaços em constante encaixe?
E se, no final, a formiga já soubesse tudo isso? Se, enquanto carrega sua folha, soubesse que sozinha não chegaria longe, mas com as outras pode construir um lar?
E se tudo começasse com uma formiga?
Com amor, Vida.