E se …

Tem uma música, acho que é do Francis Hime, que traz em sua letra várias cogitações impossíveis, ou quase impossíveis, de acontecer. O "se" …

Tem uma música, acho que é do Francis Hime, que traz em sua letra várias cogitações impossíveis, ou quase impossíveis, de acontecer.


O "se" é explorado ao extremo: se cair neve no verão, se o Botafogo for campeão, etc. Detalhe: o Botafogo acabou sendo campeão, o que desacreditou um pouco a letra.


"Se", costumam dizer os comentaristas esportivos, não joga? Entretanto, a avaliação do lance que tivesse um outro desfecho ou da decisão do árbitro que fosse diferente está sempre presente na análise de jogos e campeonatos.


Se não houvesse sido inventado aquele plastiquinho para fechar potes, estaríamos até hoje usando facas, chaves de fenda e toda parafernália que se tivesse à mão para abrir o vidro de requeijão?


Gostaria, no entanto, no apagar das luzes de 2005 - que expressão mais antiga! - de propor uma outra situação: e se não houvesse os descaminhos na articulação política do governo e Roberto Jefferson não tivesse contado o que contou?


Volumes estratosféricos de dinheiro não contabilizado continuariam a azeitar as relações palacianas?


Este dinheiro estaria pagando desde festas em hotéis de luxo e charutos cubanos até honorários advocatícios e despesas de campanha?


Lula estaria todo pimpão preparando-se para uma eleição presidencial apenas para "cumprir o carnê", com recondução garantida ainda no primeiro turno?


José Dirceu estaria ocupando a posição de primeiro ministro virtual do governo e preparando sua candidatura a presidente em 2010?


Haveria uma briga mais acirrada pelas candidaturas majoritárias petistas nos estados?


A ação de Jefferson, evidentemente, não fazia parte da análise de cenários feita pelos artífices do esquema, foi uma anomalia. Alguém "de dentro", que se sentindo excluído e ameaçado, revelou tudo, ou quase tudo, que sabia.


O trágico desta história toda é que fica a sensação na opinião pública de que o Estado Brasileiro é frágil em seus mecanismos de auditoria e controle, dependendo sobremaneira de denúncias para, ainda que de forma branda, agir.


É difícil assegurar que as respostas acima teriam resposta positiva, porém a probabilidade seria muito grande.


Por ora; a não ser por medo de potenciais operadores, pois o negócio ainda está quente; não há nada que garanta que este modelo de corrupção não volte a ocorrer. Aguardemos.


Não podemos continuar na dependência do "se" ?


Feliz 2006 a todos !!!

Autor
André Arnt, diretor da Coletiva EAC, é de empresas, consultor e professor universitário. Coordenou cursos de pós-graduação nas áreas de negócios e marketing. Atua como consultor em estratégia empresarial. É colaborador da Coletiva.net.

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