É ou não é censura?
Concordo com o Paulo Sérgio Pinto. É um absurdo o que o Governo Federal anda querendo fazer com os veículos de comunicação através da …
Concordo com o Paulo Sérgio Pinto. É um absurdo o que o Governo Federal anda querendo fazer com os veículos de comunicação através da imposição do tal Manual da Nova Classificação Indicativa da Televisão Aberta. De novo, como cachorro andando atrás do próprio rabo, andamos voltando a mesma velha discussão sobre como se faz para manter no ar uma televisão "apropriada". E o apropriada, aqui, tem várias conotações. Apropriada pelos donos. Apropriada pelo poder. Apropriada pela população. Próprio de quem é a televisão? Um dos argumentos dos que querem implantar o, digamos, mecanismo de regulamentação da programação da telinha nacional: proteção à criança e ao adolescente brasileiros.
Partindo do princípio que são os adultos responsáveis por tudo que seus filhos (ou quem estiver sob sua responsabilidade) fazem até a idade adulta, é meio forçação de barra o Estado, como ente, querer fazer este papel.
Vão argumentar: ah, mas é difícil isso, de pai, mãe, avós, titios e babás controlarem o que os pimpolhos e os não tanto assistem no sofá das casas. Então, o papai-Estado, zeloso de seu papel, vai cuidar disso para as criancinhas. Inclusive do fuso horário em que elas vivem.
Então, em vez de gastar dinheiro com projetos, ação e, vá lá, campanhas, para tentar enfiar na cabeça deste povo que menino de 6 anos não tem nada de ficar vendo Big Brother e outros lixos, o Governo opta pela radicalização. Mete a mão na programação e fim.
As concessões são concedidas? Quem não sabe disso. O que não significa que o beneficiário tenha de dizer amém a tudo, tipo Hugo Hitler, quer dizer, Hugo Chávez e suas idéias de controle estatal travestido de nacionalismo.
Exemplo caseiro, que pode não significar nada neste mar de incoerências (será?) governamentais: quando meu filho tinha cinco anos, andava gostando demais de ver uma série chamada O Elo Perdido, uma produção tipo B sobre pessoas que caíam numa fenda do tempo e ficavam presas numa época pré-histórica, cheia de seres de outros planetas. A solução foi tirar o canal do ar na hora em que lhe era permitido ver televisão. Simples. Sem traumas.
Agora, nesta época em que vale tudo, é cômodo para a família deixar rolar. E uma excelente desculpa para a truculência oficial.
O Governo usa alho e água benta para se deslinkar das proximidades deste ato com o que foi feito durante o período militar, quando o censor convivia na redação como gente de casa, apesar de mal recebido. No entanto, não abre diálogo para que se busque outra solução ou se tente mexer no tal Manual. Ao contrário. Sobe o tom e diz que vai para o confronto a partir da discussão das concessões. Ou seja, quem não obedecer, vai levar reguada na mão do papai Governo.
Não me interessa se a lei é do tempo do FHC nem se está sendo turbinada no governo Lula. Me interessa é o perigo que ela representa, sob a interpretação que estão querendo dar a ela.
Alberto Dines, tão respeitável jornalista, parece um porta-voz do apocalipse: "Estes libero-anarquistas detestam normas, limites e ordenações, prostrados aos pés do Deus do Mercado e de sua cônjuge, a Deusa Livre Iniciativa", assim mesmo, com caixa-alta, em seu post do dia 18 ado no Observatório da Imprensa. E complementa citando quem ele pixa: "Nos EUA, pátria do liberalismo e da resistência às regulamentações, a classificação etária para a exibição de filmes em cinemas ou teatros tem mais de meio século." Sim. A terra dos neo-libs que ele condena.
E, no desespero de defender quem, afinal, financia também os da livre-iniciativa, como o próprio Dines e seu Observatório (com um belo banner da Embraer, no alto de sua página no site), sobra, claro, para gente como Diogo Mainardi, da Veja, e quem ouse sair do como oficial.
Não estou aqui para defender nem Mainardi nem ninguém. Só defendo o direito de livre expressão e não, não me considero hipócrita, palavra mais corrente na boca dos defensores do Manual.
Nem sou refratária à ordem e à lei, coisa que não se pode dizer daquela minoria de estudantes sem nada a dizer da USP, que se instalou na Reitoria, onde fez quebradeira, sem ao menos saber o que fazer direito e se escondendo atrás de nomes falsos para dar entrevista, enquanto cria um site para reclamar da "grande imprensa".
Acho que a Abert tem mesmo que brigar. Não pode ceder um milímetro se o panorama continuar sendo este que se apresenta.
Solução tem, para tentar mudar a visão das pessoas sobre certos hábitos. A campanha de um laboratório, agora no ar, para deixar de fumar, é um belo exemplo.
Assim como quero, para meus filhos, direito à informação ampla, geral e irrestrita, com base nos ensinamentos que lhes dei desde o berço, quero o mesmo para os guris da Rocinha. Posso não ser um modelo de mãe e educadora, assim como os pais da Rocinha. Mas sei bem o que quero para minhas crias. Respeito, sim, às normas da civilidade. Censura, truculência, jamais.