E ainda precisamos falar sobre o feminismo

Por Márcia Martins

Desde que me engajei com maior dedicação às pautas dos direitos humanos, em todo 8 de março, Dia Internacional da Mulher, penso que não será mais preciso escrever sobre a importância de se falar no feminismo. Que este tema já estará amenizado e superado (e na realidade, é um desejo das mulheres que atuam na área, a maioria, assim como eu, de forma voluntária). Não precisar mais bater na mesma tecla de igualdade entre os sexos, de direitos iguais, de respeito, fim da discriminação e blá, blá, blá. Mas, infelizmente, os crescentes casos de violência contra as mulheres e outras barbaridades me fazem retornar ano após ano ao assunto.

Mas como é possível ignorar a necessidade, ainda em 2022, de se falar sobre o feminismo ao saber que o Brasil tem um estupro a cada dez minutos e um feminicídio a cada sete horas. É o que aponta um levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado na segunda-feira (7 de março), véspera do Dia Internacional da Mulher. Em 2021, por exemplo, o número de estupros contra mulheres teve um aumento de 3,7%, na comparação ao ano de 2020. O que representa 56.098 casos em apenas um ano, ou seja, um crime deste tipo a casa dez minutos.

Já os feminicídios, que conforme a Lei 13.104/2015 são tipificados quando ocorrem os assassinatos que envolvem violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher, apresentaram uma queda de 2,4%. Só que esta redução não altera a realidade. O País prossegue com um índice alarmante e inexplicável de um assassinato pelo fato de ser mulher a cada sete horas.

A pandemia e a necessidade de isolamento, obrigando muitas vezes a mulher a ficar em casa trancada com o seu agressor, acelerou os casos de violência sexual de março de 2020 a 31 de dezembro do ano ado. Foram 100.398 meninas e mulheres vítimas de violência neste período. Das 27 unidades federativas do País, em 18 delas foram registrados aumento de casos de estupro e estupro de vulnerável, sempre que a vítima tem menos de 14 anos e não é capaz de oferecer resistência.

Diante de tais números, e da informação de que o orçamento federal para combater a violência contra a mulher em 2022 é o menor dos últimos quatro anos, segundo nota técnica do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), divulgada na terça-feira (8 de março), urge que se aprofunde mais e mais todos os temas relacionados ao feminismo.

São necessárias políticas públicas eficientes que se encaixem em um orçamento real e não um teatro simplório, em cadeia de rádio e televisão, em que a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, enganando quem sabe a si mesma, anuncia milagres com um volume de recursos irrisório.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve agens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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