Dubito, ergo cogito, ergo sum*
RIO ? A Rua Adolfo Bergamini, no Engenho de Dentro, será fechada nesta quarta-feira, entre as ruas Dias da Cruz e Borja Reis, de 13h …
de Dentro,
será fechada nesta quarta-feira, entre as ruas Dias da Cruz e
Borja Reis, de 13h até as 19h, para o Bloco Chave de Ouro.
2009: notícia na imprensa carioca
Muito preocupado com minha condição de vivente, sou um crente devotado à minha vida e, como tal, ocupadíssimo com ela.
Desde há muito, eliminei de minhas divagações ou cogitações as origens do mundo, o pós-vida e tudo que não seja, ainda, do conhecimento científico. Como não preciso e não tenho fé, ocupo-me
Outro dia, ao ler
A imprensa nos últimos dias vem dando cobertura ao aborto induzido numa pernambucana de 9 anos, estuprada e engravidada pelo padrasto. Esse aborto, conforme a Medicina, antecipou a morte, em meses, de dois fetos e salvou a menina da futura morte, também certa.
O arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, cumprindo as leis do Direito Canônico da sua Igreja, excomungou os médicos que salvaram a vida da menina.
Não satisfeito em aplicar a lei que representa, ao afirmar que "A lei de Deus está acima de qualquer lei humana" deu uma opinião pessoal desrespeitosa para com toda a grande maioria do mundo, cujas crenças e descrenças não têm origens bíblicas. Esqueceu-se, inclusive, que exerce o seu sacerdócio em Estado laico e, portanto, submetido a uma legislação própria.
Quem quiser ser respeitado tem que respeitar e eu, que respeito todas as posturas religiosas ou não, não posso respeitar essa triste e prepotente figura.
Felizmente, em minha opinião, os médicos, em nome do bom senso e da vida, desconheceram o Juramento de Hipócrates: Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva.
Os tempos são outros, e a tecnologia oferece aos médicos, e à ciência em geral, as ferramentas para que o bom senso prevaleça na escolha da melhor decisão. Já o arcebispo?
No caso, é evidente que a Medicina evolui enquanto o Direito Canônico estacionou no tempo.
A excomunhão é uma das maiores penas que um fiel pode receber da Igreja Católica. Proibidos de receber os Sacramentos, os excomungados, de acordo com a mesma Igreja, ao morrer, em vez de ir para o Purgatório, Céu ou Inferno, até abril de 2007 foram para o Limbo, fazer companhia a todos que não foram batizados. Na contagem da época, uns 4 bilhões de terrestres não-católicos estavam predestinados ao Limbo, ou seja, ao Nada. Há dois anos, o Papa aboliu esse Nada.
Estamos na Quaresma, período em que parte dos católicos se voltava para a reflexão e, inclusive, para algumas recomendações litúrgicas, entre as quais um dia de jejum.
Nem sei se essas recomendações ainda existem nas prédicas do período, mas quanto à Quarta-Feira de Cinzas, primeiro dia após o Carnaval e também o primeiro da Quaresma, virou uma esculhambação generalizada em boa parte do Brasil. Muitos milhões de brasileiros estenderam a folia para a quarta-feira e mesmo até para o sábado. Mas nem sempre foi assim.
Na Quarta-feira de Cinzas de 1943, no ocaso da ditadura Vargas (10.11.1937/29.10.1945), o grupo que assistia a um filme no cinema do "seu" Tuninho, no bairro Engenho de Dentro, Rio, foi expulso por promover algazarra. A "vingança" dos rapazes foi sair desfilando pelas ruas da região cantando músicas carnavalescas. Gostaram e, no ano seguinte, ao meio-dia, repetiram a dose. Por ser um "dia santo", a polícia dissolveu o desfile. Pronto, a tradição se instalava e a repressão também, até 1977, o 34º desfile "proibido". Como a permissão acabara a graça, acabou também aquela festa em data pagã.
Já no século XXI, o Chave de Ouro ressuscitou, recebendo, inclusive, dinheiro do Estado.
Fosse agora, o romano Cícero, um católico carioca, certamente repetiria:
O tempora, o mores (Oh tempos, oh costumes).
A própria contagem dos 40 dias da Quaresma também virou uma esculhambação. Tanto no Aurélio como no Houaiss, a Quaresma termina no Domingo de Páscoa, o que, sem maiores explicações, é um absurdo aritmético.
Caso você queira se divertir, entre num site de pesquisas, coloque "Quaresma" e ria bastante até encontrar duas contagens possíveis. Uma delas deve ser a correta: a Quaresma tem 47 dias e termina no Domingo de Páscoa, mas, dentro da liturgia católica, os domingos daquele período não são considerados; a Quaresma tem 40 dias e acaba no Domingo de Ramos, o anterior ao da Páscoa.
Qual você prefere?
Inté.
*Eu duvido, logo penso, logo existo. Descartes