Dom Pedro (II)
Por José Antonio Vieira da Cunha

Primeiro governador de oposição eleito após anos de arbítrio, Pedro Simon enfatizava em todos os discursos a necessidade de lutar para mudar aquela fisionomia do momento vivida no Estado. Isto é, imperava o pessimismo e o sentimento negativista que acompanhava o Rio Grande do Sul desde o começo dos anos 80, com as manchetes de imprensa alertando para a situação caótica das finanças públicas e da istração pública em geral.
Recordo que certa vez, nesta cruzada atrás de uma pontada de otimismo, Simon afirmou: "Nós vamos iniciar com convicção um novo Rio Grande, que vai ser rico, que vai ser próspero, mas que será o Rio Grande fruto do nosso trabalho". E parafraseando Kennedy, detalhou: "Essa frase quer dizer apenas o seguinte: não vamos perguntar ao Rio Grande o que podemos levar dele, mas vamos perguntar às nossas consciências o que nós podemos fazer pelo nosso Rio Grande".
O governador acreditava piamente que esta mudança de mentalidade era absolutamente necessária, e foi aplaudido de pé em um congresso de marketing, em outubro de 89, quando encerrou provocando: "E não adianta querer ajudar o Brasil numa outra posição que não seja ajudar a melhorar a imagem do Rio Grande do Sul".
Não se itia mais seguir lamentando misérias e imaginando que os únicos responsáveis por tantos desacertos eram os políticos. Daí a convicção de que cada um seria responsável, na medida do seu poder e da sua força. E Simon dizia, ao defender uma sociedade participativa, que era necessário "tomar no peito e na marra esta causa porque, em ela sendo grande, todos serão grandes".
A retrospectiva daquele período, em especial a de 1988, mostrava com clareza que o governo do Estado se dedicava a desenvolver um verdadeiro esforço de marketing para vender um produto chamado... Rio Grande do Sul. Esta a ênfase que dei ao responder, findo o governo, uma interpelação judicial, que acusava a gestão Simon-Guazelli (o vice Sinval Guazelli assumiu em março de 1990, quando o titular renunciou para concorrer ao Senado) de difundir um slogan para se autopromover. Não foi difícil provar que o que estava sendo vendido era a imagem não do governo nem do governador nem da istração daquele momento, e sim a própria imagem do Estado.
Em toda ação publicitária que se divulgou naquele período, a orientação seguida era sempre essa, a de mostrar o Rio Grande com um ambiente acolhedor e favorável aos empreendedores. Era um esforço articulado para sustentar que havia condições, capacidade, viabilidade, perspectivas altamente positivas para seu desenvolvimento - apesar de qualquer adversidade eventual ou sentimento negativista.
Acrescentei mais um cristalino argumento para defender o posicionamento de que o esforço de divulgação do governo não privilegiava o governante, antes pelo contrário. Simon tinha sido, até aquele momento, o único governante dos anos contemporâneos a não propagar uma fotografia oficial. Melhor, foi o único a não exigir, como era normal até aquela época, que qualquer próprio público, qualquer repartição, qualquer escola ostentasse, no salão nobre ou na "sala do diretor", a fotografia oficial do Senhor Governador.
A recomendação oficial era em outro sentido: que os órgãos públicos estaduais colocassem em destaque um quadro com o mapa do Rio Grande do Sul e uma inscrição que significava um apelo no sentido de que o Estado contasse com a participação de seus cidadãos, para que todos se conscientizassem das responsabilidades que tinham para com seu torrão natal. O quadro trazia uma arte do mapa gaúcho com a inscrição "Leve o Rio Grande no Peito", uma ideia que trazia embutida a conclamação no sentido de se desenvolver este estado e amá-lo intensamente, com o mesmo orgulho de anteados ilustres.
Se hoje esta posição soa quixotesta, o que se há de fazer?