Despedida
Todos os caminhos levam a Roma, mas a gente aproveita e vai a Florença Parte da crônica de 11 de fevereiro neste espaço: "ei …
Todos os caminhos levam a Roma, mas a gente aproveita e vai a Florença
Parte da crônica de 11 de fevereiro neste espaço: "ei três dias em São Paulo e em Ribeirão Preto, mas essa viagem teve uma finalidade excepcional e única, pois minha irmã Célia, a primogênita dos quatro irmãos, festejou, em grande estilo, seus primeiros 80 anos de vida, sendo que desde 1955 reside em Ribeirão Preto onde se aposentou como professora da Faculdade de Enfermagem".
A gente não sabia que aqueles 80 anos comemorados num salão de festas entre 150 familiares e amigos era uma gloriosa despedida. Dia 5 ado, a gente ficou sabendo.
O poeta, escritor e mestre de telenovelas Manoel Carlos - assim como eu - foi alvo dessas dívidas chamadas de impagáveis. Sua irmã mais velha, assim como Célia, também era do Clube do Livro, anos 40 do século ado. Essa irmandade nos proporcionou a leitura de grande quantidade de livros dos maiores escritores do mundo e do Brasil.
Outra: eu tinha uns 15 anos quando a Célia me emprestou um livro dizendo:
- Talvez você goste.
Era a Rosa do Povo, de Drummond.
Viciei.
A mana era socióloga formada pela USP, mesma turma da Ruth e do Fernando Henrique Cardoso. Depois, fez Psicologia e mantinha um concorrido consultório em Ribeirão. Era a minha consultora nessas áreas onde sou analfabeto.
Vou contar uma história para afirmar que acho besteira o lugar-comum de que "o mundo é pequeno". Acho que o mundo tem o tamanho que tem, mas acontecem nele grandes, enormes, fantásticas coincidências. Exemplo: Aurea e eu saímos de um show em Barcelona, já quase uma da manhã e nos informamos sobre onde comer naquela hora. Fomos parar num lugar superanimado que nos lembrou muito o antigo "Beco da Fome", no Rio, inda que com mais categoria. Minha mulher e eu estávamos conversando num balcão quando uma moça de um grupo perguntou se éramos brasileiros. Confirmamos e a conversa se estendeu para nossas cidades de origem. Quando outra moça afirmou ser de Lavras (MG), eu disse:
- Conheço uma única pessoa de Lavras, Carlito Maia.
- Sou prima dele.
Ano seguinte, estávamos - minha mulher e eu - numa cabine de trem que ia de Roma para Milão, com paradas em importantes cidades italianas, quando o outro ageiro da cabine, um senhor, perguntou em português se éramos brasileiros.
Face à confirmação, ele nos disse que trabalhara em Campinas. E eu disse-lhe que nascera lá. Ele disse também que morara um bom tempo em Ribeirão Preto. Disse-lhe que minha irmã morava lá e que ele deveria conhecer o meu cunhado, médico famoso e cidadão honorário de Ribeirão, Ruy Ferreira-Santos. Ele quase deu um salto da poltrona, perguntando surpreso:
- Dona Célia é sua irmã?!
- Sim, e campineira como eu.
Então, ele abriu o jogo, pois havia me dado um drible quando eu, dizendo que era publicitário, perguntei-lhe o ofício. Era frei agostiniano, dirigira os colégios Santo Agostinho nas duas cidades e morara muito tempo no Brasil. Acrescentou que quase todas as semanas jantava em casa de minha irmã. Ele ia para Bérgamo e nós desceríamos antes, em Florença. Fez questão de nos ajudar com as malas e insistiu para que eu levasse o seu abraço para minha irmã:
- E, por favor, não esqueça o meu nome!
- Fique tranqüilo Frei Sabatini, fui leitor dos folhetins do seu conterrâneo, Rafael Sabatini. Ainda me lembro do Capitão Blood e das muitas escaramuças do Scaramouche.
Já na plataforma, acenamos e gritamos:
- Arriverdecci!
Essa despedida, hoje, é mais abrangente:
Adeus, mana.