Derrubem as Casas
Por Fernando Puhlmann

"Saudade é melhor do que caminhar vazio."
Peninha
Existe um estudo americano, feito por uma Universidade da Carolina do Norte, com pessoas à beira da morte, que mostra que as melhores memórias da vida delas, as que elas guardam com mais carinho, não são as de grandes vitórias pessoais, nem nascimento de filhos, nem mesmo de encontros amorosos incríveis. O que elas mais guardam e lembram no fim da vida são coisas triviais, uma noite entorno de uma mesa de bar com amigos, a risada dada com facilidade em uma brincadeira de infância, o momento exato que um amigo colocou o braço por cima do ombro do outro, caminhando para casa na volta de uma simples "pelada" de futebol, uma viagem em família.
Por que eu estou citando isso? Porque hoje eu fiz um "" de uma parte muito importante da minha vida, os dias que a gente ava na Casa do Tio Alfredo.
O Tio Alfredo era o irmão mais velho do meu pai. Morávamos no Alegrete e ele em Arroio do Tigre, logo, não conseguíamos nos ver seguido. Hoje parece impensável isso, mas na minha infância e boa parte da juventude, não existia internet, então o contato com a família dele era apenas por telefone ou rápidos encontros em Santa Maria (terra natal do meu pai) em alguma data muito especial. Mas havia as férias de verão. Ah? as férias de verão, que saudades!
Meu pai e a minha mãe nos colocavam, os quatro filhos, e mais um monte de mala, dentro de uma Caravan e partíamos para praia. Quinze dias no litoral e de lá direto para Arroio do Tigre, para mais quinze dias.
Quinze dias ESPECIAIS na casa do Tio Alfredo e da Tia Batiza. Com o Alexandre, a Luciana e a Fernanda, primos queridos que víamos tão pouco, mas que eram como se fossem irmãos. Quando a Vó Edite era viva, também estava lá. E isso era maravilhoso.
Quinze dias de festa, piscina, jogo de bola, Olimpíadas (organizada pelo meu pai) com a turma de amigos dos primos, sorvete na rodoviária, churrasco do Tio Alfredo, doces da Tia Batiza. E a amizade? Ah, a amizade de primos? é maravilhoso ter primos.
A casa era gigante, ensolarada, bonita, acolhedora.
Dormíamos na parte de baixo da casa, em uma espécie de apartamento separado que havia na frente. Era difícil dormir, porque apesar de armos o dia todo correndo, brincando, tomando banho de piscina, a adrenalina era altíssima. Imaginem sete crianças e mais os amigos o dia todo junto? Porém o sol mal dava sinal de vida e lá estávamos nós, prontos para mais um dia inesquecível.
A vida ou, viramos adolescentes, depois adultos, casamos, eles tiveram filhos, eu criei a minha tropa de gatos e cachorros e nos afastamos. A vida é assim, ela te empurra, te puxa e quando tu vê ela ou rápido demais.
Tio Alfredo nos deixou, partiu para trabalhar a sua amada medicina nos hospitais do espaço, a internet chegou, o whatsapp nos uniu novamente de forma virtual e lá vamos nós nos grupos da família. "Bom dia", " Parabéns", Força aí", " Vamos nos encontrar".
Hoje a Lu postou uma série de fotos da casa antiga no grupo, eles venderam ela e quem comprou demoliu. Impactante.
Engraçado, fazem muitos anos que não ia lá, muitos mesmo. Mas ela estava lá, sempre lá.
Nossas risadas estavam lá, o Frank Sinatra do Tio Alfredo, tocando alto, estava lá, as chimias da Tia Batiza estavam lá, o abraço da Vó estava lá. E vão continuar exatamente lá. No mesmo lugar. Porque PARA SEMPRE, não tem a ver com lugares, tem a ver com memórias.
Derrubem as casas, a gente ainda vai ter elas todas conosco.