De repente, não mais que de repente
Não se trata de uma coluna de autoajuda porque não me considero habilitada, academicamente, para tal. É apenas o desabafo de uma mãe que …
Não se trata de uma coluna de autoajuda porque não me considero habilitada, academicamente, para tal. É apenas o desabafo de uma mãe que sempre cuidou e educou a sua filha sozinha e minimizou conselhos daqueles com larga bagagem, isto é, mais filhos com idades avançadas. E, por favor, não me refiro à bagagem como algo pesado de carregar, um ônus, e sim ao acúmulo de conhecimento (gostaram?). Mamães e papais que educam jamais desprezem duas correntes do crescimento natural da espécie. Sempre sentimos saudades dos filhos em idades menores e eles sempre serão os nossos pequenos.
É que, às vezes, estamos envolvidos no nosso cotidiano, na pressa ensandecida e capitalista de correr e vencer um tempo que não existe para ter ganhador e na agenda extensa de tarefas que nos sufoca porque não dizemos não, que os pequenos atos dos filhos am batidos. Afinal, eles estão conosco todos os dias e noites. Podem esperar. E num gesto contínuo, mesmo jurando amor eterno e prioritário, deixamos para o segundo tempo a reunião no colégio (é tudo igual). Prorrogamos o pedido da conversa urgente que o filho solicita (não deve ser tão necessária). E vai pros pênaltis uma revisada nos temas.
Um dia, como quem não vê que seu pequeno está deixando, há muito, de ser pequeno, você acorda e percebe que seu rebento já não cabe tão aninhado no seu colo; que seus braços não são mais fortes para enlaçá-lo; e que o tamanho de roupa que você comprou ele já não usa. Nem a mesma língua, se duvidar, vocês falam (a menos que os dois socializem algumas palavras para facilitar a comunicação). Tudo bem, entendeu? Tá ligada que a mãe da fulana deixa? Tipo assim, ó, vai rolar? Não, ela é Peri, tá sabendo? (cumã???) Ah, sim Periguete, não é da mesma turma, não é do mesmo auêzinho.
Na sua sabedoria poética e diplomática, Vinicius de Moraes, já dizia, no Soneto da Separação, "fez-se do amigo próximo o distante, fez-se da vida uma aventura errante, de repente, não mais que de repente". Num toque da farinha de condão da Sininho da Terra do Nunca para se vingar de Peter Pan, os filhos ficaram enormes, bem mais altos que nós, querem ter autonomia para muitas coisas, combinam cinemas e tardes no shopping, pedem mesada eletrônica, compram ingresso para shows porque sabem que os pais vão liberar a saída. Nem sempre pedem, comunicam.
E nada mais será como antes! Daqui uns dias, sua filha chega em casa com um carinha tatuado, de piercing nos lábios (aff, pelo menos num local mais civilizado), fazendo uma gesticulação com os dedos da mão, que conforme a variação indica a tribo a que pertence, e diz que é seu namorado (ou o termo mais atual). Informa que talvez ele fique para dormir (que é isso, pessoa!). E é você que precisa pedir um espaço na agenda dela para conversar coisas banais. Tão banais como aquelas que ela tanto queria dividir com você nos tempos em que você não tinha tempo tempo adequado para ela (compreendeu?)
Então, mamães e papais de primeira maternidade. Não é exagero e nem apocalipse. O tempo é o tempo e vocês vão sentir falta do chorinho, do primeiro sapatinho, das letras mal desenhadas, das roupas que você escolhia e uma lista interminável de itens. Logo, aproveitem sim cada minutinho da vida do seu pequeno ou pequena. Coloque seu filho nas suas prioridades práticas e não na teoria. E, como falei no início, apesar de tudo, haverá sempre o momento em que seu rebento, já adolescente, entrará pela porta e você saberá, pelo olhar, que aquela pessoa, criatura, serzinho, precisa do seu colo.