De pé no avião

Não tem onde se esconder.  Talvez em Porto Alegre. Alienados, uni-vos. Tem gente defendendo o voto nulo. Fu Lana, uma vez, anulou o seu. …

Não tem onde se esconder.  Talvez em Porto Alegre. Alienados, uni-vos. Tem gente defendendo o voto nulo. Fu Lana, uma vez, anulou o seu. Insignificante, a cédula riscada à caneta Bic, de cima abaixo, não fez diferença nenhuma. O mundo está cada vez mais cão. Deve ser a idade. A idade de não acreditar em mais nada. Engraçado como as caricaturas pegam você. Uma hora, você é adolescente, dizendo que nada convence, e em nada acredita. Depois acredita em situações selecionadas, pelo discernimento maduro. Mais tarde (tarde demais), vê que nada valia mesmo um ovo. Como seguir em frente sem acreditar em nada? Flávio Koutzii deixou órfãos, e nem mesmo morreu. Largou o séquito no caminho. É mais ou menos como aquele caminhante em Forrest Gump, que ao decidir parar de caminhar deixou milhares sem opinião sobre onde ir e o que fazer. É aguardada a movimentação do mestre. Só que ele pode ter apenas ter desistido. E Fu Lana não só jogou a toalha como tem vontade de enforcar-se nela. Agora, com a volta de Zé Dirceu ao comando, não tem como explicar ao espelho que esta seria a última vez que seu voto seria para o Lula. Em todo caso, adorou saber que a questão lino teve alguns desdobramentos inusitados. Graças a alguns jornalistas que não se dão por vencidos. Foram atrás da origem do dinheiro doado ao caseiro pelo pai biológico e descobriram que ele, na verdade, recebeu "emprestado". De quem? De um outro coitado, ainda mais pobre que o filho Nildo: um empresário informal, que mora de favor e tem uma frota de dois ônibus velhos para transportar diaristas à roça. Um dos veículos está até estragado. Sete mil reais esse cidadão disse ter em casa guardados e os teria emprestado ao pai de nildo. E aí, na história, aparece o nome de Aécio Neves manipulando as cordas. Jornalismo tem disso. Você lê algumas linhas, percebe a situação e não precisa ler mais nada. Cata nos textos como quem cata no lixo. E depois ainda pega emprestado. Assim como é vendido o quilo de latinhas a dois reais e 30 centavos, copiam-se textos e idéias por menos de vintém. É claro que texto reciclado não é a mesma coisa que um novinho, pensado e escrito sem pressa nem pressão. Pobres jornalistas. São mesmo uma raça à beira de um ataque de nervos. Mas não tem jeito. Não tem como descer do mundo, mesmo porque na lua já estão sendo planejadas ocupações e viagens turísticas. Nos aviões, os ageiros já irão em pé. Imagino o futuro de Fu Lana, viajando com uma galinha debaixo do braço, agarrada numa braçadeira no corredor do avião, sacudindo em turbulências, dando um inho pro lado pra deixar ar a aeromoça. Nos quadros de retirantes, cansados e suarentos, pobres e desnutridos, eles viajariam galáxia afora, e gostariam de mudar de mundo sem levar o que mais os perturbam: eles no espelho. Baixaria. A história dirá a que viemos?  

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