De partidas e desencontros - I
Por José Antônio Moraes de Oliveira


"Não existem encontros ou desencontros.
Apenas a infinita paixão pela vida".
Federico Fellini.
O cinema do século XX imitou a literatura quando ou a adotar encontros e desencontros em seus filmes românticos. Desde então surgiram cenas antológicas que mesmo hoje nos comovem. Até o grande Federico Fellini, verdadeiro mestre em gerar emoções, confessava que, quando filmava cenas de despedidas, lembrava dos clássicos 'E o Vento Levou' e 'Breve Desencontro'.
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Antes do cinema, descaminhos e desencontros já eram frequentes em literatura e poesia. De Santo Agostinho a Marcel Proust, páginas e páginas foram escritas sobre o tempo e o desencontro. Autores se detiveram naquele brevíssimo instante, quando seguimos por um caminho e não por um outro - e assim transformamos nossa vida - e a de mais outros.
O poeta Walt Witman dizia que ao escolher um caminho que pode mudar nosso futuro, não devemos olhar para trás, onde fica o limbo do não-acontecido, do nunca-mais.
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Quando filmou apaixonados em separações e encontros frustrados, o cinema desenvolveu uma linguagem própria para contar tragédias, melodramas e romances. A partir daí, todo o mundo ou a conhecer melhor Alexandre Dumas, Lewis Carroll, Victor Hugo, William Shakespeare. E os seus dramas e personagens ingressaram para sempre na memória coletiva.
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Em 1945, o inglês David Lean dirigiu um antológico ensaio sobre perdas e separações. A dupla Trevor Howard/Celia Johnson, vivia em tempos de guerra, um muito breve interlúdio junto a um trem que parte - uma cena modelar, destinada a ser repetida incontáveis vezes desde então.
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O tema voltaria em 1957, com o refinamento e bom gosto de Leo McCarey no folhetim filmado "Tarde Demais para Esquecer". Que imediatamente entrou para a lista dos grandes do cinema romantizado. O desencontro de Cary Grant e Deborah Kerr umedeceu os lenços de platéias ao redor do mundo.
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Vinte anos depois, uma talentosa Nora Ephron, aplicada analista da mulher contemporânea, filma "Sleepless in Seattle", uma de suas bem humoradas crônicas sobre perdas e desencontros. Ela revisita o clássico de 1957 e promove no topo do Empire State a reunião improvável de Tom Hanks com Meg Ryan
(Segue).
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