De insanos e de assassinos
Mas Chica da Silva Tinha outros pretendentes &n
Mas Chica da Silva
Tinha outros pretendentes
E obrigou a princesa
A se casar com Tiradentes
(Samba do criolo doido, por Sérgio Porto)
Maus fados vêm adiando a coluna pronta desde o dia 16 e que a saída de cena de Caymmi atropelou.
Fui mudar a data da coluna adiada e dei-me conta que esta segunda-feira é 25 de agosto, um feriado nacional na minha infância com direito a desfile militar. Coluna novamente adiada!
Na fluminense Vila de Porto Estrela, em 1803, nascia no hoje município de Duque de Caxias aquele que, por sua bravura e inquestionáveis serviços à pátria, em 1923, tornou-se patrono do Exército Brasileiro: Luis Alves de Lima e Silva que entrou para a nossa história como o Duque de Caxias, patrono do Exército brasileiro.
A data de seu nascimento virou homenagem ao duque e à classe que honrou como poucos: Dia do Soldado, então estendido a todas as armas.
O ano de 1964 começou com um já adiantado e articulado golpe para derrubar João Goulart, presidente constitucional da República.
Jango ameaçava transformar o país numa república sindicalista e entregar o poder à esquerda extremista. Esse o motivo ou pretexto?
Fatos: na madrugada de 2 de abril de 1964 Auro Soares de Moura Andrade, presidente do Congresso, mesmo consciente da mentira, declarou vaga a presidência da República e, logo depois, empossava o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, presidente do Brasil.
Apesar do golpe evidente com a declaração de uma vacância que não existia (Jango estava
Às 3 horas daquela madrugada o país voltava a navegar em águas constitucionais.
Motivo e pretexto esquecidos, os militares das três armas deram o golpe que o senador Auro antecipara, criando uma Junta Militar.
Assim como o presidente do Congresso desconheceu que Jango estava no Sul, os golpistas militares desconheceram o fato que Mazzilli não era partidário de Jango, não era um esquerdista e, conforme a piada, não morava em Niterói e nem se chamava Manuel.
Criada a Junta Militar - general do exército Artur da Costa e Silva, tenente-brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo e vice-almirante Augusto Rademaker Grünewald - foi decretado o Ato Institucional que em 15 de abril entregou o poder ao general Castelo Branco.
Os motivos alegados para as eatas antes organizadas pelos golpistas, as marchas "da Família com Deus pela Liberdade", já eram.
Tenho certeza que Deus, sabedor do futuro, não marcharia ao lado de futuros responsáveis por centenas de assassinatos e milhares de atrocidades. Usaram Seu santo nome em vão.
Quanto ao país haver se tornado um Estado Assassino (AI-5) para combater a subversão, na mesma época a Itália lutava contra o terrorismo da Brigada Vermelha e - sem mexer na constituição e sob o império da lei - dava fim à organização.
Alguém pode, em sã consciência, justificar um golpe em nome da força? E custa lembrar que - depois - a subversão foi conseqüência do golpe?
Aquela parcela podre das forças armadas queria o poder e alegando a defesa da liberdade - descaradamente - assassinou a liberdade.
Agora, vou interligar fatos.
Getúlio Vargas, um dos líderes ds revolução de 1930 que derrubou um governo que fraudava as eleições, assumiu a presidência. A demora em restaurar a ordem democrática levantou São Paulo na Revolução Constitucionalista de 1932 ("São Paulo não esquece, não perdoa, não transige").
O governo, pelas armas, assegurou a continuidade de Vargas no poder.
Em 1937, na expectativa das eleições para janeiro do ano seguinte, o governo denunciou a existência de um plano comunista para tomar o poder. Era o "Plano Cohen", ficção política escrita pelo capitão Olímpio Mourão Filho que criou um clima favorável ao golpe do continuismo.
Em 10 de novembro de 1937 a Nação foi informada da instauração do "Estado Novo" e Getúlio, líder de uma revolução contra a fraude eleitoral foi coerente e radical: acabou com as eleições.
Ditadura é ditadura e seu fedor só difere na intensidade. O ex-tenente Felinto Müller, Chefe da Polícia de Vargas, antecipou os assassinos de 1964 e, sádico, torturava pessoalmente os adversários presos.
Vargas, que vivia a contradição de haver mandado tropas para combater na Itália o nazi-facismo, mantinha-se como um ditador com todas as características facistas.
O Exército encarregou-se de acabar a contradição e - num "golpe branco", mandou o ditador tomar conta da sua estância
Em 1954 um pistoleiro - mantendo as tradições brasileiras de errar o alvo - atirou no então deputado Carlos Lacerda e matou o major Rubens Vaz.
Esse tiro provocou outro tiro que mudou a história do Brasil.
Vargas, empossado em 1951 como presidente eleito, sofria acirrada oposição da União Democrática Nacional e das forças reacionárias do país. A UDN, desde as eleições de 1945 tentava assumir o poder e era frustada pelas urnas.
Aquele tiro do péssimo pistoleiro conseguiu realizar o sonho do deputado federal Carlos Lacerda que comandava a oposição e conseguiu, também, que as investigaçoes chegassem ao Palácio do Catete, nas pessoas da guarda pessoal de Getúlio.
A pressão para que Vargas renunciasse agrediu o ego do presidente e este, com um tiro no coração, deixou uma carta-testamento onde registrou o significado do gesto: "Deixo a vida para entrar na História".
Esse tiro abortou um golpe, novamente tentado contra a posse de Juscelino, mas garantida pelo marechal Lott e - de novo!!! - abortado em 1961, com a renúncia do presidente Jânio Quadros e a tentativa de não empossar o vice, João Goulart. O movimento conhecido como "Legalidade" impediu o golpe, mas em menos de três anos o apetite pelo poder transformou-se em 20 anos de Ditadura. Finalmente, a diarréia dos golpistas enxovalhou a Nação.
Esse golpe foi até precipitado por um general, ninguém menos que o "escritor" do Plano Cohen, o então capitão Olímpio Mourão Filho que, em vez de se candidatar para a Academia Brasileira de Letras, reiterou sua índole de "psicopata por golpes " e, às 5 horas da tarde de 31 de março, de Juiz de Fora, Minas, anunciou à Nação a rebelião militar. A frase registrada por Marx "a história que se repete vira farsa" não aconteceu aqui: virou tragédia em 1964.
Ontem, 24 de agosto, fez 54 anos que Getúlio com um tiro mudou a história, e hoje, 25 é o Dia do Soldado.
Com todo o ódio que minha cidadania autoriza e sustenta, recordo que Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Ernesto Geisel, Figueiredo e seus acólitos hastearam uma bandeira emporcalhada por um Estado Assassino.
Por eles e seus genéricos, quem cantar o hino nacional trocando a letra original pelos versos do "Samba do criolo doido" ficará mais próximo de seus currículos e das farsas da nossa história.
Por aqueles que morreram nos campos de batalha e a todos que honraram o legado de Caxias, a pátria agradecida comemora o Dia do Soldado!
Os responsáveis por uma tragédia semelhante à da escravatura merecem esses versos de Castro Alves em "Navio Negreiro":
Existe um povo que a bandeira empresta
P?ra cobrir tanta infâmia e cobardia!?
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!?
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa? chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ?
Antes que esqueça: alguém pode me dizer onde os militares do I Exército esconderam o cadáver do ex-deputado Rubem Paiva, morto sob tortura?
Inté.