Da imbecilidade e suas provas
O episódio proibindo a venda do último livro de Fernando Moraes remeteu o País aos métodos das últimas ditaduras, a dos militares e a …
O episódio proibindo a venda do último livro de Fernando Moraes remeteu o País aos métodos das últimas ditaduras, a dos militares e a de Vargas, com a agravante de ser uma decisão lavrada por um juiz e não saída da ignorância da Censura arbitrária ou da caneta de um ministro fantasiado com a pasta da Justiça.
Nem vou discutir o assunto, coisa que tem tido cobertura em todos os órgãos de divulgação e que já recebeu total repúdio por parte da Associação Nacional de Jornais pela voz de seu presidente, Nelson Sirotisky.
Quero discorrer um pouco sobre esse exercício de burrice a que se entregou o nobre deputado Ronaldo Caiado. O deputado, sentindo-se prejudicado pela divulgação de um fato que ele diz não ser fato, entrou na Justiça para encobrir o fato ou a mentira, seja lá o que for. Ao ser dada a sentença a seu favor, ele evitou que cerca de 50 mil leitores tomassem conhecimento do episódio narrado por Fernando Moraes. E, de imediato, mais de um milhão de brasileiros ficaram sabendo, pelo rádio, televisão, jornais e revistas que, conforme o escrito, o deputado tinha um plano, se eleito Presidente da República, de esterilizar a população nordestina, composta, conforme ele, por seres inferiores da condição humana.
Não me consta que algum publicitário já tenha tido essa mesma idéia, usada para o objetivo contrário de dar total visibilidade a um produto ou serviço. Claro que seria um expediente criativo e de enorme eficácia, como foi esse bumerangue, ainda que indesejável, lançado pelo deputado por Goiás.
Ronaldo Caiado tem sido um notório defensor dos agricultores na Câmara, categoria empresarial que sempre precisou de olhos vigilantes para bloquear, por vezes, caminhos não desejáveis na política agrária do Governo. Caiado, entretanto, tem se notabilizado mais pelo acirrado combate ao movimento dos Sem Terra e deixado transparecer que vê a sociedade como, por exemplo, os persas que a dividiam em classes, cujas bases eram os escravos. Se verdadeiro o episódio narrado no livro, provisoriamente proibido (eu acho), acho, até, que Hitler suicidou-se tranqüilo, sabendo que sua tese sobre a superioridade dos arianismo iria sempre encontrar adaptadores, reformadores e pregadores.
Certa vez, no corredor do Fórum carioca, ouvi uma frase que não guardei direito, mas cujo sentido é que da cabeça de juiz e de patas de cavalos a gente nunca sabe o que vai sair. No caso, sei o que saiu, só não sei de onde?
Inté.
* Mario de Almeida é jornalista, publicitário, dramaturgo, autor de "Antonio""s, caleidoscópio de um bar" (Ed. Record), "História do Comércio do Brasil - Iluminando a memória" (Confederação Nacional do Comércio), co-autor, com Rafael Guimaraens, de "Trem de Volta - Teatro de Equipe" (Libretos) e um dos autores de "64 Para não esquecer" (Literalis).