Da cepa à cena

Ser solidário é estar com a maioria? O melhor é dizer as verdades ou deixar algo sem ser dito? Crer no início do mundo …

Ser solidário é estar com a maioria? O melhor é dizer as verdades ou deixar algo sem ser dito? Crer no início do mundo na versão grega ou cristã?


As grandes questões continuam sem resposta. As novas gerações seguem aprendendo e perguntando e os adultos enganam-se a si mesmos, achando que conseguiram apreender a própria época.


A lição surge a partir de um mestre: Costa-Gavras. Bastava ele para questionar o ado recente e abrir os olhos de uma América Latina perseguida e acossada. Hoje, uma geração depois, é a vez de sua talentosa filha, Julie Gavras, questionar os cânones paternos, com humor e picardia. A culpa é de Fidel conta a história de uma garotinha sa, mimada e aristocrática, que através das ações de seus pais testemunha a mudança do universo, no final do anos 60 e início da década de 70. Conhece a esquerda, "os barbudos", e ouve intrigada a tradução dos avós para o que estava acontecendo. Começa a entender que existe outra forma de divisão de renda, que existe outra versão para a vida além da visão religiosa cristã.


Em uma sopa de seres vivos, na qual são adicionados a cada dia estranhos condimentos ácidos e exóticos, a menina iniciava um convívio com os diferentes do mundo inteiro. Suas babás (uma cubana anti-Fidel, uma grega, que tem o marido preso, e uma vietnamita foragida) trazem para dentro da tranqüilidade familiar  outras culturas em que as visões de mundo se fundem, se confundem e se multiplicam.


Lições de História são desenvolvidas sob um ponto de vista fresco e inédito de uma menina que interrelaciona as informações recebidas e questiona cada tribo. Os aristocratas ses estão transformando-se em classe média e tudo está mudando na volta de Anna, e, é claro, com ela mesma. Não poderia ser diferente com a heroína. E as transformações acontecem, a partir dela, conosco. A gracinha do irmão mais novo, François, que ainda não tem idade nem para tentar compreender o que ocorre, faz o contraponto, mostrando a diferença entre um ser totalmente alienado e um que pelo menos procura perguntar, testar e, cúmulo da audácia, responder.


A vida de Anna e os acontecimentos da época trazem a certeza de que não há certezas, apenas prováveis conclusões temporárias. Para quem viveu, como ela, aquele momento da História em criança, ou mesmo viveu um sonho de um mundo melhor, sendo adulto, ou está chegando agora ao mundo real, ou mesmo não está procurando questionar nada e adora não saber nada sobre nada, o filme é excelente. Dá-se boas risadas de situações absolutamente banais que tomam a forma de um insight mundial. E, ali, podemos ver em ação o futuro.


Vale a pena dar a voz para a próxima geração, quando ela traz a cepa e a faísca da criatividade e uma inevitável curiosidade. Além, é claro, da coragem de colocar em dúvida o status quo. Em qualquer época.   

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