Cuspido e escarrado
Em grande medida o Império Romano foi mestre na produção de cópias, assim como hoje japoneses e chineses são os melhores do mundo neste …
Em grande medida o Império Romano foi mestre na produção de cópias, assim como hoje japoneses e chineses são os melhores do mundo neste ramo. A vocação romana estava assentada nas leis, no direito e nas estratégias de guerra, faltando-lhes o dom da arte e da arquitetura, descaradamente copiadas dos gregos. Muitas palavras e expressões do nosso vocabulário tiveram origem na cultura dessa época. Por exemplo: as colunas de mármore importadas da Grécia para as monumentais edificações romanas, eventualmente apresentavam trincas e discretas rachaduras, por isso eram destruídas e a conta não era paga. Alguns fornecedores gregos aram a "maquiar" as colunas defeituosas com cera. Os romanos descobriram o embuste e aram a exigir colunas sem cera. Não tardou para que as identificassem como colunas sinceras, expressão adotada por quase todos os povos quando querem dizer que algo é verdadeiro e sem a mácula da mentira.
Em Roma, muitas cópias de objetos de arte e de divindades eram esculpidas
A graça e a imensa criatividade do povo brasileiro cunharam expressões de modo a torná-las minimalistas, ou criar a reprodução fonética que facilita as coisas para ele. Foram as empregadas domésticas que aram pela casa de minha mãe que enriqueceram o meu vocabulário com estas pérolas do imaginário popular. Diziam que tudo o que não era de ferro ou alumínio era de "matéria", referindo-se à matéria plástica, hoje simplesmente plástico. Também ouvi que transar com uma garota "de menor" podia dar galho, embora eu também fosse "de menor". E que o marido era "encostado", referindo-se à aposentadoria por doença, e nunca se referiam a um homem como sendo um "ordinário". A maledicência endereçada aos homens era o "vadio". Mulheres, sim, eram chamadas de "ordinárias", o que pelo vernáculo significa comuns, não sendo exatamente uma ofensa, mas sendo: "A ordinária não vale o prato que come". E quando o fulano era ingrato, "virava o coxo". Assim, com uma só imagem, o ingrato também era chamado de porco.
Jogadores de futebol produziram a expressão "traíra", não o peixe, mas de trairagem, vocábulo inexistente cujo radical está na palavra traição. Batatinha quando nasce se esparrama pelo chão, do original "espalha a rama pelo chão". Outra: inspirada na broxa, o grande pincel flexível que se dobra para facilitar a pintura, a palavra virou verbo: broxar. Telefone celular cuja conta não foi paga em dia virou pai de santo, ou seja, só recebe.
Em grande parte a gíria vem do morro e a classe média incorpora. Fulana fez o maior "barraco", beltrano é 171 (código penal de estelionato). Pouca difundida é a origem do "coroa" e depois das "coroas", que vem a ser o contrário dos caras. Os caras eram jovens, logo, os velhos eram o verso da moeda, o coroa. Era cara ou coroa. Só nos dias de hoje e graças aos avanços da medicina e dos recursos estéticos é que os coroas e as coroas têm alguma aparência de caras, embora a maioria se revela um coroa ou uma coroa quando abre a boca, pois ainda não existe cirurgia plástica para rejuvenescer o cérebro. Mesmo assim, cara, não baixe a guarda perto desta geração que inventou o rock and roll, a internet, a pílula, o amor livre e as primeiras viagens alucinógenas, e que depois todos aram a chamar de "o maior barato". Embora muitos destes senhores estejam proibidos pelo médico de comer sal, ainda assim são a cópia viva dos grandes revolucionários comportamentais do planeta. Esculpidos