Croniconto: A cesta de Natal

Por Flávio Dutra

No almoço de fim de ano da mesa ao lado, os convivas foram surpreendidos com a revelação de um deles de que tinha presenteado uma Interposta Pessoa com uma cesta de Natal.

- Uma ceeesta de Natal !, reagiram em uníssono os outros comensais.

- Ué, uma cesta de Natal bem sortida, com panettone, figos em calda e tudo o mais. Tinha até uma garrafa de Gotas de Cristal. Qual é o problema?

- Cesta de Natal é presente que se dê a uma Interposta Pessoa?! Indignou-se a senhora que sentava ao lado do rapaz, que já dava sinais de constrangimento.

Seguiu-se um amplificado debate, comandado pelo naipe feminino, enquanto os homens evitam prestar solidariedade ao companheiro em desgraça.

- Se ao menos tivesse na cesta uma calcinha comestível, - opinou uma.

- Ou uma champanhe sa, - acrescentou outra.

- Eu só aceitaria se a tal cesta viesse acompanhada de uma joia, - sentenciou uma terceira.

Depois dessa, não havia mais espaço para outras sugestões e a pauta derivou  para questões menos instigantes.

No dia seguinte, a moça  que dera a sugestão da joia recebeu na repartição onde trabalhavam uma cesta com um par de brincos. Belos brincos numa embalagem acolchoada. E desde então pairou um mistério sobre qual dos três participantes masculinos da mesa fizera a declaração amorosa em forma de uma cesta de mimosuras na repartição.

Todos estavam errados nas especulações, menos uma, nutria uma paixão secreta pela colega, plenamente aceitável nestes tempos de celebração de todas as formas de amor. 

- Viva a diversidade. Te amo,- teria  escrito no cartão que acompanhava a cesta.

- Ainda bem que foste tu,- festejou a amiga. Não consigo me imaginar tendo um caso com alguém do nosso time masculino, bando de babacas.

E a partir de então viveram felizes na diversidade para sempre. 

*Aproveito o espaço para desejar a todos um Natal e um ano novo de reencontros e muitos abraços, daqueles que estavam reprimidos. E se receberem uma cesta natalina que seja repleta de mimos e sem controvérsias.  Venha logo 2022 e que seja um ano redentor.

Autor
Flávio Dutra, porto-alegrense desde 1950, é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com especialização em Jornalismo Empresarial e Comunicação Digital. Em mais de 40 anos de carreira, atuou nos principais jornais e veículos eletrônicos do Rio Grande do Sul e em campanhas políticas. Coordenou coberturas jornalísticas nacionais e internacionais, especialmente na área esportiva, da qual participou por mais de 25 anos. Presidiu a Fundação Cultural Piratini (TVE e FM Cultura), foi secretário de Comunicação do Governo do Estado e da Prefeitura de Porto Alegre, superintendente de Comunicação e Cultura da Assembleia Legislativa do RS e assessor no Senado. Autor dos livros 'Crônicas da Mesa ao Lado', 'A Maldição de Eros e outras histórias', 'Quando eu Fiz 69' e 'Agora Já Posso Revelar', integrou a coletânea 'DezMiolados' e 'Todos Por Um' e foi coautor com Indaiá Dillenburg de 'Dueto - a dois é sempre melhor', de 'Confraria 1523 - uma história de parceria e bom humor' e de 'G.E.Tupi - sonhos de guri e outras histórias de Petrópolis'. E-mail para contato: [email protected]

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