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Judas, Brutus, Calabar, Silvério dos Reis, Jânio, Collor, Lula? Crie você mesmo o melhor título. Já escrevi, não sei onde, mas desde a vitória …
Judas, Brutus, Calabar, Silvério dos Reis, Jânio, Collor, Lula? Crie você mesmo o melhor título.
Já escrevi, não sei onde, mas desde a vitória de Tancredo Neves para presidente - e a conseqüente volta do país ao estado de Direito -, desliguei-me da política de varejo. Após haver militado em todas as trincheiras que se opam às forças antiprogressistas e às barbáries da ditadura, aposentei-me do dia-a-dia da nossa política. Com a pretensão de conhecer a estrutura opressiva da realidade brasileira e o jogo de interesses internacionais que nos reduz a uma republiqueta, dedico-me a afazeres que me dão prazer.
Aos que pensam que desprezo a história do PT e o currículo de muitos dos seus criadores, acho pertinente fazer - pelas minhas insistentes críticas à risível figura desse Lula da Silva - algumas colocações que me excluam da suposição de alienado ou reacionário.
"Sou filho de uma mulher que nasceu analfabeta" ou "Uma galinha, por mais que ela saiba que precisa botar ovo para ter mais pintinhos, ela bota um de cada vez". "Estou otimista porque estamos reduzindo as taxas de interesses dentro do Brasil." "Me desculpem, mas a nossa massa encefálica é mais inteligente do que vocês pensam". O que dizer dessa figura que se auto-eleva? São apenas algumas frases imbecis escapadas de um rosário de imbecilidades.
Essa ignorância patética do nosso presidente, além das inevitáveis gargalhadas, não tem maiores conseqüências, pois, com louvável sensibilidade, entregou a istração do país a um pessoal muito mais qualificado do que ele. Não me refiro aos méritos ou deméritos dessa istração, mas ao altíssimo nível de muitos de seus responsáveis, como, por exemplo, o ministro Celso Amorim.
A ignorância do Lula não me choca, ela não difere da ignorância da maioria de nossa população, uma ignorância muito mais visível face à postura pública desse notório falastrão. As bobagens que ele diz são bobagens inconseqüentes, as metáforas de mau-gosto quase sempre são só grandes asneiras, enfim, toda essa parte risível seria apenas cômica se não fosse trágica.
O imperdoável nessa figura patética é sua inserção no universo dos traidores e não se pode perdoar quem joga no lixo a esperança de um povo.
Candidato de uma grande coligação, em 1960 - grande parte constituída das forças mais retrógradas deste país -, Jânio Quadros foi eleito presidente com enorme votação. Um dos indicadores de sua aprovação popular era a esperança de continuidade do clima de otimismo predominante e da auto-satisfação de um povo com a sua própria identidade.
Aquela figura, que me parecia tresloucada desde seus tempos de vereador paulistano, jamais me enganara. Confirmada a eleição, eu, que dirigia teatro em Porto Alegre, sentei-me diante da minha Olivetti e, em poucas semanas, escrevi uma peça com duração de duas horas, na qual, além de detalhar os mecanismos do sistema, denunciei o que deveria acontecer a uma nação enganada.
Escrevi, dirigi e após assistir ao ensaio, o jornalista, escritor e poeta Ruy Carlos Ostermann publicou: ""O Despacho", sátira de Mario de Almeida, deverá entrar em cartaz no próximo sábado - A peça é irreverente porque ela combate uma das maiores irreverências do nosso meio: a burrice".
No livro "Trem de Volta - Teatro de Equipe", Paulo César Peréio, um de seus atores, escreveu: "A opinião unânime de quem participou ou assistiu ao Despacho é que o Mario foi um profeta quanto aos fatos políticos relativos à renúncia de Jânio. Não sei se todos perceberam que Mario também "anteviu" a marcha da Igreja brasileira ao colocar em cena um bispo reacionário, como a quase totalidade da Igreja daquela época, e um padre que vai se tornando progressista, conforme a intelecção que vai tendo dos problemas da nossa estrutura política e ideológica. Essa percepção do futuro me parece uma das grandes visões da peça, e a própria Igreja se encarregou, na sua trajetória, de desmoralizar as vozes mais reacionárias que se levantaram, na época, contra o nosso espetáculo".
A peça estreou em 18 de julho de 1961 e Jânio renunciou em 25 de agosto. Caos instalado, aconteceu o prenúncio de golpe, abortado pelo movimento da Legalidade. O Teatro de Equipe transformou-se em Comitê e agência de propaganda do movimento liderado pelo então governador Leonel Brizola. Fui o contato permanente com o Palácio Piratini e no Equipe, inclusive, foi criado, por Lara de Lemos e Paulo César Peréio, o "Hino da Legalidade".
Encerrado o episódio com a posse de João Goulart, num regime parlamentarista - solução articulada por Tancredo Neves -, as forças reacionárias começaram a se organizar e, em menos de três anos, deram o golpe de abril de 1964.
Naquela ocasião, à frente da reportagem da Última Hora gaúcha, "cobri" a decisão de Jango em aceitar sua deposição, "fechei" a edição de 2 de abril com a notícia e, na minha coluna, "Sem Censura", eu, que nunca fui getulista, publiquei a Carta-Testamento de Vargas e fugi.
Findos os anos de chumbo e encerrado o capítulo no qual o Estado tornou-se de fato um Estado assassino, Tancredo Neves, eleito pelas forças democráticas e cujo ado era o aval de uma grande esperança nacional, morreu antes da posse.
Sarney assumiu e é isso que a gente sabe o que foi e quem ele é.
Depois, Fernando Collor de Mello surgiu com a promessa de acabar com os "marajás". Quando as propinas já estavam a mais de 20% e a esperança já estava a menos de zero, deram um pontapé na bunda dele.
Itamar cumpriu com dignidade o restante do mandato, até ar a faixa a Fernando Henrique Cardoso. Quem votou em FH não pode se dizer traído, afinal, o neoliberalismo não convenceu até o Lula?
Finalmente, numa Brasília vivendo o seu dia mais glorioso de festa popular, numa verdadeira demonstração cívica e afirmação de cidadania, o ex-torneiro mecânico assume a Presidência, embalado por imensa esperança de grande parte da nação.
Com alguns de seus homens de confiança e parte de seu PT envolvidos no escândalo da compra de parlamentares, diz ele ignorar tudo, o que arrancou do senador Jefferson Peres uma conclusão óbvia: "Ou ele é mentiroso ou imbecil". Diz-se traído, sem dar nomes aos traidores, e a mesma malta que o cercava continua cercando-o, ainda que de forma discreta.
Luiz Inácio da Silva, o Lula, é quem levanta, no momento, o cetro reservado na História aos grandes fraudadores da esperança política do nosso povo.
Já escrevi que me aposentei da política de varejo.
Este não é um artigo contra o PT e muito menos um artigo com visão eleitoreira. Este é um artigo no qual minhas vísceras anunciam seu ódio a Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula que o senador afirma ser mentiroso ou imbecil. De minha parte, muito pior - um traidor.
Esse ódio, isento de qualquer contexto político ou ideológico, refere-se à condição humana enxovalhada. Esse é um ódio que me faz bem.
Com a frase "Lula tem a cara do Brasil e o Brasil tem a cara do Lula", ele faz a campanha para a reeleição.
Eu devo ser exceção, pois essa cara descarada eu não tenho.
Inté.