Crianças de rua
Um tema difícil. Outro dia Fu Lana estava lendo o Boca de Rua. Ficou estarrecida com o ponto de vista e com realidades diferentes …
Um tema difícil. Outro dia Fu Lana estava lendo o Boca de Rua. Ficou estarrecida com o ponto de vista e com realidades diferentes da sua. Ficou com medo de estar na rua. "Se eu fosse criança de rua ficaria com muito medo mesmo". Parece até filme gaúcho. E aproximou-se dali uma menina de treze anos dizendo que adorava o Boca de Rua, enquanto sua mãe dava R$ 1,00 ao rapaz na sinaleira. Surpreendeu-se. Como são organizados os moradores de rua. Como vivem de uma forma civilizada a relação com a moradia, o que para Fu Lana é tão irregular, e como não havia de ser indigna aquela vida. É como se Fu Lana asse a ver, a partir da leitura, a ver no guardador de carros alguma função. "Se vier o ladrão, assim ela o faria: fiz que não vi." Através de seu ponto de vista, ela julga o que o guardador faria.
A leitura de um jornal como esse realmente tira Fu Lana do ar e de seu lar seguro e regular.
Balança suas estruturas. A surpresa é o diálogo que acontece entre uma parte da população que fecha a janela na sinaleira para não dialogar com aquele sujeito que está do lado de fora. E aquele que, de fora, sabe-se do outro lado, desigual.
E o Boca de Rua traz para dentro da casa das pessoas o que estas tribos pensam. O Boca completa o diálogo, faz a sinapse, a união das pontas. O Boca de Rua conecta. O aproximar-se de outra realidade é o que deixa Fu Lana meio sem chão. Seria possível um jornalismo assim verdadeiro, isento e, sobretudo, livre? O que não sai nos jornais preocupa sempre.
Mas não devia. Devíamos poder dizer nas páginas e páginas, virtuais e materiais, coisas sempre palpáveis. Chega de abstrações. Imagina se a realidade sai às ruas?
O Boca de Rua é um soco no estômago e na hipocrisia. E é também uma tristeza.
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