Copiar, nova-velha moda
Gostei do comentário curto e grosso de um leitor do Figaro online postado abaixo da notícia publicada sobre a cópia roubada do filme X-Men …
Gostei do comentário curto e grosso de um leitor do Figaro online postado abaixo da notícia publicada sobre a cópia roubada do filme X-Men Origin s: Wolverine: "normal". É o que diz ange_sans_l, seja lá quem for, justificando: "se vocês fizessem filmes novos em vez de explorar até a náusea as licenças velhas como estas, isso não aconteceria. Se eu já tinha os comics de origem do X-men tenho direito para ver o filme, não? Então, não existe roubo". Uma mentalidade cada vez mais comum desde que o o às tecnologias antes em mãos de poucos se democratizou mundo afora, particularmente na web.
A questão da pirataria ainda será revista, tenho certeza. Ontem, ouvi de uma colega jornalista uma explicação para a facilidade com que os produtos piratas (roupas, relógios, sapatos, bolsas, etc) se reproduzem e a repressão é infinitamente menor em relação ao crescimento do delito: os produtos piratas, em muitos casos, são produzidos pela empresa de origem em fábricas terceirizadas, largados para consumo nas ruas e alimentam, assim, o conhecedíssimo caixa 2. Na Itália, me contou ela, isso é itido e reconhecido.
Confesso que não sabia desta notícia. Mas sei que o original de há muito deixou de sê-lo. Cada vez mais copiamos e copiamos e o esforço criativo termina, mesmo sem querer, se abastecendo no que já existe. Reciclamos e damos o nome de novo. Como acontece com esta nova produção a partir dos personagens dos quadrinhos que vazou para a internet esta semana. Basta entrar no site do filme (que continua, pateticamente, fazendo a contagem regressiva para a estréia em primeiro de maio, apesar de todas a cópias baixadas) para ver que pouco muda no roteiro de sempre. Mesmo os efeitos especiais terminam se repetindo.
Eu gosto destas viagens ficcionais em cima de personagens fantásticos. Não li os quadrinhos desta turma de seres estranhos da Marvel, surgidos em meados dos anos setenta do século ado. Certamente por estar recém-formada e ingressando na vida jornalística, em velhas redações com barulhentas máquinas de escrever e cercada de medo de um bicho-papão chamado censura por todos os lados. Talvez por isso, as versões cinematográficas não só dos X-Men mas também dos velhos Super Homem e Homem Aranha e tantos outros me surpreendam e divirtam.
Quanto ao fato de baixar produtos culturais sem pagar por eles, não é futuro: é presente. A troca de arquivos já existente vai se impor, mesmo que chiem autores, gravadoras e estúdios. A queda no lucro exorbitante que havia em geral, em especial para as entidades de direito autoral (razão de muito bate-boca, em especial no Brasil) é a causa maior da chamada "moralização". Não a moralização em si, a partir da discussão do que pertence a quem na internet: o dinheiro é que manda, não me iludo.
Volto a bater na tecla em que já bati outras vezes: basta olhar os jornais, revistas e mesmo as versões online das publicações para ver que os releases são simplesmente recortados e colados. Raramente se vê uma edição, ou uma interpretação objetiva de uma notícia. Falta de tempo? Falta de interesse de quem escreve? Preguiça de redator e de editor? Ou simples realidade? A lamentar, acima de tudo, que se copiem textos, muitas vezes artigos de opinião, e ainda se assine embaixo, assumindo indevidamente uma autoria, isso sim, a meu ver, algo indecente.
Voltando ao vazamento do filme que conta a origem de Wolverine e suas garras afiadas: quem teclar da produção vai encontrar esta explicação do Uncle Google: "Devido a uma queixa que recebemos de acordo com a lei americana Digital Millennium Copyright Act (Lei de Direitos Autorais do Milênio Digital), 1 resultado(s) foram removidos desta página. Para ler a queixa que causou a remoção, e ChillingEffects.org."
Não adianta nada. O remédio chegou tarde. A estas alturas, milhões já viram e estão ando adiante as caras e bocas de Hugh Jackman, por sinal com uma cara de cansado e tão enrugado que parece estar precisando, de fato, de um bom implantezinho de adamantium.