Coopítulo 93 - Mais registros notáveis
Por Vieira da Cunha

Naqueles tempos, na segunda metade dos anos 70, o prestígio da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre crescia, o que levou o presidente do Sindicato dos Jornalistas, João Borges de Souza, a se manifestar em um evento sindical, dizendo considerar a Coojornal uma opção muito importante para o mercado de trabalho. Nas suas palavras, de uma esperança incerta, tornara-se uma realidade em apenas dois anos de operação. E o presidente da ARI (Associação Riograndense de Imprensa) fazia questão de ressaltar que a cooperativa preenchia uma lacuna na área de organização dos jornalistas trabalhadores. "É uma iniciativa vitoriosa, que enaltece a classe, especialmente os que a idealizaram, criaram e dirigem", disse o marcante Alberto André.
Eram tempos com espaços para o jornalismo alternativo. Está ali o registro de criação do Terço, um jornal singular baseado especialmente em crônicas e charges e com a participação de nomes famosos na crônica esportiva. Era uma verdadeira seleção de talentos, com Cid Pinheiro Cabral, Ibsen Pinheiro, Ruy Carlos Ostermann, Ivo Correa Pires, Lauro Quadros, Paulo Santana, Marco Aurélio, Luis Fernando Verissimo, Carlos Nobre e cartunistas como o Batsow. Outra novidade era o Lampião, que com uma única folha impressa dos dois lados se notabiliza por sua postura fortemente crítica ao sistema. Circulava mensalmente com seus cinco mil exemplares a partir do esforço e dedicação de um grupo de universitários, um deles Marcelo Oscar Lopes, que depois seria um talentoso jornalista, que se foi cedo demais.
Um diferencial importante estava em matérias exclusivas que os veículos da grande imprensa deixaram de publicar por diferentes motivos, do temor à censura à contestação da postura das empresas jornalísticas ao abordar os bastidores do setor da comunicação. Foi o Coojornal que contou como foi feita a reportagem da Veja sobre a Rede Globo.
A publicação da reportagem foi impactante, assim como a revelação sobre como foi produzida. Sob o título A Hollywood Brasileira, o trabalho foi assinado por três repórteres da revista, que aram 18 dias dentro da Rede Globo. Hamilton Almeida F°, Joaquim Ferreira do Santos e Guilherme Cunha Pinto relataram para o Coojornal os bastidores da reportagem, como o fato de que os três tinham livre trânsito nas dependências da emissora a partir de uma carta que explicou a intenção da revista: vasculhar a Globo de cima a baixo, da sala do diretor Walter Clark à sala de edição dos programas, ando pelos departamentos de novela, de shows, de telejornalismo. "Lá todo mundo é artista", surpreenderam-se os repórteres, que confessaram ter ficado "impregnados pelo espírito que paira sobre esta incomparável máquina de imagem e dinheiro". Por toda a parte, o clima perfeito de um modelo autocrático, registraram, sem deixar de anotar que naquela quadra da vida brasileira os repórteres da Globo eram atração em qualquer lugar onde estivessem presentes.
Poucos anos mais tarde, em 1983, a alma do poderoso grupo de comunicação seria esmiuçada no livro História Secreta da Rede Globo, escrito pelo jornalista gaúcho Daniel Herz. Daniel não teve liberdade para circular pelos corredores da Globo, mas assegurou credibilidade ao se basear em documentos oficiais, narrando a história desde o surgimento da rede, em 1965. Sob as bênçãos, registre-se, da ditadura militar, graças à postura adesista do já veterano O Globo. Lá se vão sessenta anos que, aliás, estão sendo muito festejados no atual ambiente democrático.