Foi grande a repercussão quando Leonid Streliaev foi escolhido o melhor fotógrafo do país e Sílvio Ferreira e Pedro Flores ficaram entre os três brasileiros premiados num concurso internacional promovido em 1976 pela Nikon em 40 países. No Rio e em São Paulo, então os principais centros do jornalismo nacional, o momento foi visto como uma demonstração evidente de que o Rio Grande do Sul formava muitos bons fotógrafos, o que levou o Coojornal a promover uma conversa com lideranças do setor, todas elas associadas à Cooperativa dos Jornalistas. 121351
Ali estão Assis Hoffmann, o líder, Kadão Chaves, Gerson Schirmer, Eneida Serrano, Jacqueline Joner, Jaime Klintowitz, Luiz Abreu, Alberto Etchart, Maurecy Santos, Sílvio Ferreira, J. B. Scalco e Olívio Lamas, todos nomes respeitados e invejados entre os profissionais da imagem. Foi uma excelente troca de ideias, cuja síntese indicava que eram ótimos profissionais, embora mal remunerados e sem formação específica. Assis concluiu com sabedoria, na forma seca e precisa que caracterizava suas manifestações: ?Esta é a escola brasileira de fotografia. É um garoto interessado, um contínuo [office-boy], que fica por ali peruando e aprendendo no dia a dia, É como se formam nossos fotógrafos?.
Era uma época em que o prestígio das faculdades de jornalismo crescia, boa parte devido ao fato de as mulheres arem a se interessar pela profissão e abrir espaços na categoria. Começavam a povoar as redações, mas na fotografia sua participação ainda era rara e, para alguns, estranha. Jacqueline Joner relatou o período de apenas três meses em que trabalhou na Zero Hora: não se sentiu em condições de seguir em frente devido, em suas palavras, ?a uma série de pressões e aos preconceitos dos próprios colegas?. Considerava inável ?um certo tipo de brincadeiras?, que Assis confirmou de forma crua e inconformada: ?Havia uma certa promiscuidade lá, e era comum os fotógrafos dizerem palavrões, arem a mão na bunda um do outro?.
A Cooperativa dos Jornalistas tinha, entre seus conselhos, um que se dedicava à fotografia e seus profissionais. Iniciou sob a coordenação de Assis Hofmann, o mais experiente de todos. A carreira relâmpago e ao mesmo longeva de Assis começou em 1961, no jornal Última Hora, em Porto Alegre, e três anos depois já era seu editor de fotografia. Andou por redações em São Paulo e no Rio e retornara ao Rio Grande do Sul para integrar a equipe que renovou a Folha da Manhã em 1972. Foi um vitorioso na profissão, um cara ao mesmo tempo competente, voluntarioso e turrão.
Durante uma conversa informal em novembro de 2021, Kadão Chaves recordou o levante dos fotógrafos contra Assis, com um abaixo-assinado porque ele estava empenhado em criar uma agência dentro do setor de fotografia da Coojornal. Era uma ideia pronta para frutificar, mas ruídos em sua implantação deixaram alguns integrantes furiosos. Eram o Abreu, a Eneida, a Jacqueline e seu irmão Genaro Joner, que decidiram se desligar do trabalho na cooperativa, criando sua própria agência. Publiquei um artigo no Coojornal em que eu ressaltava que o desafio era criar um processo coletivo, e não mais uma sociedade anônima ou simples empresa privada. Encerrei o artigo escrevendo que este era o meu ponto de vista - que, ironicamente, viria a ser a denominação da empresa que criaram.