Coopítulo 85 - A comunicação na política

Por Vieira da Cunha

Corria julho de 1976 quando o Coojornal registrou uma novidade que acabou se tornando rotina. Foi quando os partidos políticos inauguraram o assédio a profissionais da comunicação para concorrerem a cargos eletivos. A primeira leva teve uma afluência interessante, com quase todos os nomes ligados ao futebol. No filão iniciado quatro anos antes por Paulo Sant'Ana, que se elegera vereador pela Arena, o partido que dava sustentação ao governo militar, Larri Pinto de Farias, Batista Filho e Ibsen Pinheiro estavam entre eles.

A prática dos partidos, cooptando gente que atuava em rádio, jornal e televisão, era estimulada pelo fato de estes profissionais terem espaços a sua disposição, numa época em que no período eleitoral os candidatos só podiam se mostrar em televisão com a apresentação de uma fotografia. Nada além daquela fotinho 3 x 4, absolutamente estáticos, sem poder fazer qualquer movimento ou emitir algum som. 

Quando circulou em bancas pela primeira vez, em outubro de 76, o Coojornal daria sequência a esta investida dos partidos. Que não foi tão frutífera como inicialmente arquitetado, pois muitos dos principais influenciadores da época refutaram a ideia. A política era bipartidária, com a Arena como partido governista e o MDB fazendo a solitária oposição, em um ambiente ainda complexo e oprimido por restrições ao ambiente democrático. Era um período em que a Cooperativa dos Jornalistas, por sua cultura essencialmente participativa e com irrestrita liberdade de voz e voto em seus ambientes, figurava como uma válvula de escape oportuna para quem tinha suas outras entidades, como o próprio sindicato da categoria, tolhidas em suas manifestações.

A linda e simpática Yeda Maria Vargas, ex-Miss Universo e apresentadora de televisão na Band TV, recusou o convite da Arena. Antônio Daudt, apresentador de rádio e tevê, não aceitou o canto do MDB, embora mais tarde se candidatasse com sucesso à Assembleia Legislativa pelo mesmo partido. Paulo Lumumba, ídolo como jogador e depois treinador do Grêmio, José Alberto Fogaça, que disse resistir para não enganar seu público enquanto jornalista, o jornalista Kenny Braga, o publicitário Luiz Coronel e a eterna apresentadora Tânia Carvalho também rejeitaram as sondagens.

Tânia viveu uma situação insólita. Figura popular e carismática, foi sondada simultaneamente pelos dois únicos partidos da cena política brasileira naqueles tempos. Contaria depois ao Coojornal como se dera a recusa: "Um dia cheguei em casa, morta de fome, e lá estavam o MDB e a Arena, sentadinhos, um de cada lado da sala. Eu no meio, almoçando a minha galinhazinha, e os dois me convidando com o mesmo argumento de responsabilidade para defender os direitos da mulher gaúcha". "Mas Jesus, eu mal consigo lutar pelos meus direitos", reagiu ela, na sua tradicional espontaneidade e bom humor. E, séria, acrescentou que não queria se comprometer com nada devido a sua função de apresentadora de televisão. Argumentava que nem com futebol se envolvia, respondendo aos curiosos que, longe da dupla Gre-Nal, torcia mesmo é para o Guarani de Bagé, sua terra natal. 

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas agens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem cinco netos. E-mail para contato: [email protected]

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