Coopítulo 71 - As memórias do general
Por José Antonio Vieira da Cunha

"Memórias de um conspirador" foi uma das reportagens mais impactantes que o Coojornal publicou. Trazia o depoimento pessoal e muito sincero do general Olympio Mourão Filho, o homem que a partir de Juiz de Fora desencadeou o golpe militar que iria depor o presidente João Goulart. Fazia revelações e críticas ao regime, toleradas porque era um militar de prestígio junto ao meio - e não se pensou em cassá-lo porque isso representaria punir a própria 'revolução' na figura de um respeitado general.
O curioso de tudo é que, a exemplo da reportagem sobre os cassados no Brasil, esta é outra publicação que chegou à redação do Coojornal por vias transversas. Seu conteúdo básico eram os originais de um livro do historiador Hélio Silva, que entregara o material a um interlocutor e, por engano, caiu nas mãos do editor Ivan Pinheiro Machado, um dos donos da vitoriosa L&PM Editores. Estava certamente esperando por dias menos nebulosos para pensar em editar o livro quando o historiador encontrou um repórter nosso no Rio de Janeiro e cobrou o fato de até o momento o Coojornal não ter publicado a história.
Ivan havia atuado como repórter quando jovem e era amigo de muitos dos associados da Coojornal. Instado sobre os originais do livro, disse que não considerava oportuno o momento para publicação daquele material com alta capacidade de combustão. Fez-se então um acordo: Elmar Bones falaria com Hélio Silva, explicaria o ruído na entrega e combinaria que o Coojornal publicaria excertos do livro; a partir daí o editor Ivan avaliaria a conveniência dar luz ao diário do conspirador. As dúvidas de Ivan sobre a importância da obra se dissiparam graças à repercussão nacional imediata e ruidosa, com todos os grandes jornais dedicando espaços generosos ao trabalho publicado no Coojornal e ao desdobramento das revelações impactantes do general.
O livro, por sua vez, também faria sucesso. Quando encaminhara os originais para Silva, Mourão incluiu um bilhete: "Só você tem coragem de publicar isso". Assim, não por acaso, ao apresentar "Memórias: a verdade de um revolucionário", o historiador afirma que eram como "páginas de meu arquivo que prometi e devo publicar e que constituem um subsídio único e insubstituível para o conhecimento da verdade do movimento de março de 1964. (...) Graças a Deus não me faltou a coragem que ele reconheceu em mim e que estou honrando com o cumprimento de minha palavra".
Dois anos antes disso tudo, Hélio Silva havia entregue o material para avaliação pelo Jornal do Brasil, que em um excesso de cautela engavetou-o. Depois, quando repercutiu a publicação pelo Coojornal, o JB dedicou ao assunto duas páginas inteiras de seu formato standard. Chegamos até a pensar em processar o diário, pois reproduzia toda a reportagem original do Coojornal antes mesmo de ele chegar às bancas no Rio de Janeiro, o que só aconteceria três dias depois.